Tomada da Bastilha - Pintura de Jean-Pierre Houel |
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Paulo
Ferreira
“No fundo, uma revolta é a linguagem dos
que não foram ouvidos” – Martin
Luther King (1929-1968).
A Revolução
Francesa foi um marco histórico-econômico-social na extinção do feudalismo sustentado
pela monarquia absolutista que parasitava a população. Os revoltosos acabaram
com os privilégios da nobreza e do clero. A Revolução serviu até como marco de uma nova era: Idade Contemporânea. A França vivia
uma profunda crise financeira depois da Guerra do Sete Anos e a participação na
Guerra da Independência dos Estados Unidos. A nobreza e clero não pagavam
impostos. Um tratado econômico com a Inglaterra previa a venda de vinho francês
em troca da entrada de tecido inglês na França. Isso desagradou a burguesia
causando grande revolta. Afinal, não se podia competir com o baixo custo do
produto inglês. O poder da dinastia dos Bourbons não tinha compromisso com os problemas daquele
país. O comando era centralizado. A monarquia bem que tentou respaldar-se demagogicamente
usando o artifício de promessas políticas para manter a situação, tipo reformas
ministeriais que resultaram infrutíferas, tendo a nobreza apresentado
resistência para não ceder partes de seus privilégios para a construção do
social. Em 1786 mais dificuldades econômicas na indústria e uma seca que
reduziu a produção de alimentos, somado a um endividamento crescente. Depois o
aumento no preço do pão que resultou na Tomada da Bastilha (prisão que
representava o poder monárquico) em 14 de julho de 1789.
Guardadas as devidas proporções, podemos
com pouco esforço comparar a França daquela época com o Brasil hoje: privilégios para a nobreza
(políticos) e um “clero” mais abrangente, não necessariamente partícipe da
Igreja. Socialmente falando, ainda somos um grande feudo. Se nesse quadro
trocarmos Bourbons por PT e uns outros poucos detalhes; é como se estivéssemos
em 1789 ano da Revolução Francesa. Mas com 1226 anos de atraso. Na França, Após
a Revolução, cabeças rolaram (literalmente). Luís XVI foi guilhotinado em
janeiro de 1793. Com a criação de um Tribunal Revolucionário de prender e
julgar os traidores do povo, 1,4 mil pessoas foram guilhotinadas, acusadas de
conspiração. Entre elas Danton e o jornalista Desmoulins.
Cenário brasileiro atual: Temos a
maior usina hidrelétrica do mundo – Itaipu Binacional, Petrobras - uma também
das maiores no setor do petróleo no mundo. Com um detalhe importante: nossos
vizinhos Argentina e Paraguai não têm nenhuma Itaipu ou Petrobras e, no
entanto, gasolina e energia elétrica por lá são menos caras que no Brasil – “orgulho
dos brasileiros”. O que nós ganhamos na prática em termos em essas duas grandes
empresas? E ainda mais, o Paraguai
importa combustível da Petrobras. A gasolina no Brasil como se sabe, é uma das de
pior qualidade. Alguns empresário brasileiros se instalaram nesses dois países
porque é mais vantajoso e a carga tributária não arrasta boa parte do lucro que
produzem como se faz aqui. E o que sobra para nós, simples mortais, que não
podemos instalar uma extensão numa tomada da Argentina para consumirmos energia
mais barata? Nem tampouco construirmos um gasolinoduto do Paraguai para
importarmos o que antes exportamos?
Na França o preço abusivo era o do
pão e que serviu de estopim para o levante. Aqui preço alto abrange quase tudo
e nada é resolvido. O custo de vida alçado pela energia, combustível,
alimentos, e transporte já encostou a afiada lâmina da guilhotina brasileira
nos pescoços. Mas não nos dos traidores e sim no pescoço da população. Ficamos
quase sem saída.
O Brasil vive escândalo atrás de
escândalo. E nessa sequência frequente e ininterrupta, uma boa parte da
população, principalmente de jovens acham que “essas coisas são naturais”. E
dessa forma, vamos aos poucos incorporando ao nosso dia dia mais um desvio
comportamental. Essa preocupação na construção social tinha o pensador Erich
Fromm ao citar “defeito de caráter socialmente modelado” - no
livro Psicanálise de Sociedade Contemporânea.
A
França àquela época tinha Robespierre, Jean-Paul Marat e Georges-Jacques
Danton.
No Brasil, temos como nosso
representante político Tiririca – analfabeto funcional, e outros de igual
estirpe. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, anseios do povo francês, no
Brasil, ainda nem em sonho. Mas que não é impossível se alcançar. Quem sabe,
teremos também nosso Iluminismo?!
Esperamos que a Greve dos Caminhoneiros
que agora assistimos resulte em algo proveitoso. Que a petição dessa classe de
trabalhadores explorados que tem como pauta a minoração do preço do combustível
e pedágios, e a recuperação das estradas intransitáveis sejam o pão na França
que resultou na Tomada de Bastilha quando seu comandante, De Launay foi preso.
Brasília é a nossa Bastilha. O nosso De
Launay usa saias.