sexta-feira, 6 de março de 2015




Tomada da Bastilha - Pintura de Jean-Pierre Houel
A Revolução Francesa e a greve dos caminhoneiros
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Paulo Ferreira

“No fundo, uma revolta é a linguagem dos que não foram ouvidos” – Martin Luther King (1929-1968).

A Revolução Francesa foi um marco histórico-econômico-social na extinção do feudalismo sustentado pela monarquia absolutista que parasitava a população. Os revoltosos acabaram com os privilégios da nobreza e do clero. A Revolução serviu até como marco de  uma nova era: Idade Contemporânea. A França vivia uma profunda crise financeira depois da Guerra do Sete Anos e a participação na Guerra da Independência dos Estados Unidos. A nobreza e clero não pagavam impostos. Um tratado econômico com a Inglaterra previa a venda de vinho francês em troca da entrada de tecido inglês na França. Isso desagradou a burguesia causando grande revolta. Afinal, não se podia competir com o baixo custo do produto inglês. O poder da dinastia dos Bourbons  não tinha compromisso com os problemas daquele país. O comando era centralizado. A monarquia bem que tentou respaldar-se demagogicamente usando o artifício de promessas políticas para manter a situação, tipo reformas ministeriais que resultaram infrutíferas, tendo a nobreza apresentado resistência para não ceder partes de seus privilégios para a construção do social. Em 1786 mais dificuldades econômicas na indústria e uma seca que reduziu a produção de alimentos, somado a um endividamento crescente. Depois o aumento no preço do pão que resultou na Tomada da Bastilha (prisão que representava o poder monárquico) em 14 de julho de 1789.
          Guardadas as devidas proporções, podemos com pouco esforço comparar a França daquela época  com o Brasil hoje: privilégios para a nobreza (políticos) e um “clero” mais abrangente, não necessariamente partícipe da Igreja. Socialmente falando, ainda somos um grande feudo. Se nesse quadro trocarmos Bourbons por PT e uns outros poucos detalhes; é como se estivéssemos em 1789 ano da Revolução Francesa. Mas com 1226 anos de atraso. Na França, Após a Revolução, cabeças rolaram (literalmente). Luís XVI foi guilhotinado em janeiro de 1793. Com a criação de um Tribunal Revolucionário de prender e julgar os traidores do povo, 1,4 mil pessoas foram guilhotinadas, acusadas de conspiração. Entre elas Danton e o jornalista Desmoulins.
          Cenário brasileiro atual: Temos a maior usina hidrelétrica do mundo – Itaipu Binacional, Petrobras - uma também das maiores no setor do petróleo no mundo. Com um detalhe importante: nossos vizinhos Argentina e Paraguai não têm nenhuma Itaipu ou Petrobras e, no entanto, gasolina e energia elétrica por lá são menos caras que no Brasil – “orgulho dos brasileiros”. O que nós ganhamos na prática em termos em essas duas grandes empresas?  E ainda mais, o Paraguai importa combustível da Petrobras. A gasolina no Brasil como se sabe, é uma das de pior qualidade. Alguns empresário brasileiros se instalaram nesses dois países porque é mais vantajoso e a carga tributária não arrasta boa parte do lucro que produzem como se faz aqui. E o que sobra para nós, simples mortais, que não podemos instalar uma extensão numa tomada da Argentina para consumirmos energia mais barata? Nem tampouco construirmos um gasolinoduto do Paraguai para importarmos o que antes exportamos?
          Na França o preço abusivo era o do pão e que serviu de estopim para o levante. Aqui preço alto abrange quase tudo e nada é resolvido. O custo de vida alçado pela energia, combustível, alimentos, e transporte já encostou a afiada lâmina da guilhotina brasileira nos pescoços. Mas não nos dos traidores e sim no pescoço da população. Ficamos quase sem saída.
          O Brasil vive escândalo atrás de escândalo. E nessa sequência frequente e ininterrupta, uma boa parte da população, principalmente de jovens acham que “essas coisas são naturais”. E dessa forma, vamos aos poucos incorporando ao nosso dia dia mais um desvio comportamental. Essa preocupação na construção social tinha o pensador Erich Fromm ao citar “defeito de caráter socialmente modelado” -  no  livro Psicanálise de Sociedade Contemporânea.
A França àquela época tinha Robespierre, Jean-Paul Marat e Georges-Jacques Danton.
          No Brasil, temos como nosso representante político Tiririca – analfabeto funcional, e outros de igual estirpe. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, anseios do povo francês, no Brasil, ainda nem em sonho. Mas que não é impossível se alcançar. Quem sabe, teremos também nosso Iluminismo?!         
          Esperamos que a Greve dos Caminhoneiros que agora assistimos resulte em algo proveitoso. Que a petição dessa classe de trabalhadores explorados que tem como pauta a minoração do preço do combustível e pedágios, e a recuperação das estradas intransitáveis sejam o pão na França que resultou na Tomada de Bastilha quando seu comandante, De Launay foi preso.

          Brasília é a nossa Bastilha. O nosso De Launay usa saias.