Semana de 28 de agosto a 4 de setembro de 2015
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29 de agosto de 2015 – centenário de Ingrid
Bergman
Paulo Ferreira
“Enfim, uma atriz que mostra espantosa
semelhança com um ser humano” –
crítico James Agee, se referindo a Ingrid Bergman.
“M
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as e quanto a nós?” Pergunta de uma aflita Ilsa Lund a Rick Blaine, que responde
incontinenti: “Nós sempre teremos Paris.
Tínhamos perdido, até que você chegou a Casablanca. Nós a resgatamos na noite
passada”. Blaine, via então sua amada partir em um bimotor – em cenas
finais de Casablanca (1942). O filme protagonizado por Humprey Bogart e Ingrid
Bergman não chega a ser estupendo, nem tanto pelo roteiro e produção, mas é um
dos filmes mais emblemáticos de Hollywood. É um filme de guerra fracamente
romanceado. E mesmo assim um dos mais preferidos do público cinéfilo. Na
ausência de alguns atributos técnicos, mas compensado com a bela música “As
times goes by” - de Herman Hupfeld e outras, além é claro, da ótima interpretação de Bergman sustentaram a película.
A vida da atriz foi um pot-pourri de altos
e baixos. A infância na Suécia lhe deixou marcas que cicatrizaram sua alma.
Ainda bebê, perdeu a mãe e foi viver em companhia de uma tia. Sentindo-se
atraída pela interpretação, ingressou na Escola Real de Arte Dramática. Graças
ao marido, o médico sueco Petter Lindstrom, tornou-se uma estrela na Suécia. Contratada
pelo todo poderoso produtor David O. Solznick, fez em Hollywood Intermezzo com Leslie Howard em 1939, quando
contava 24 anos. A grande jogada comercial do cinema era substituir Greta Garbo
que abdicara da vida artística poucos anos antes (1931). Bergman cresceu,
superou-se, adquiriu identidade e personalidade cinematográficas. Passou a ser
uma das atrizes preferidas de Alfred Hitchcock que a dirigiu em “Quando fala o
coração (1945)”, “Notorius” (1946) e, “Sob o Signo de Capricórnio” (1949) seu
último filme com Hitchcock.
Ela e o marido, assistindo aos filmes
“Roma, cidade aberta” e “Paisá” se deslumbraram com o que viram. Bergman enviou
uma carta ao diretor desses filmes, o neorrealista Roberto Rosselini e este,
logo depois a convidou para estrelar “Stromboli” (1950) nome de uma ilha. Surgiram
rumores que havia mais que uma simples relação profissional entre os dois. A
imprensa, por sua vez, começou a valorizar o acontecido. Assumiram o tórrido
romance. Ela abandonou filho e marido. Ele também abandonou a família. Ambos já
eram casados. A América também a abandonou por esse “escândalo”: banida pelos
“censores” puritanos, os cinemas já não exibiam mais seus filmes. O caso, de
nível doméstico a profissional, foi levado ao Congresso, pois queriam proibir
seu retorno aos E.U.A. – justificativa - não era bom exemplo moral para a
família norte-americana.
Ingrid voltou à América. Mas somente
em 1957 para receber o prêmio dos críticos de Nova York por “Anastácia, a
princesa esquecida” (1956) e, em 1958, um público em pé a aplaudiu na Academia
de Hollywood, quando ela agradeceu o Oscar concedido no ano anterior.
Divorciada de Rosselini, casa-se com
o empresário sueco Lars Schmidt em 1958, numa união que durou 12 anos. De seus
filhos, a única que lhe seguiu a carreira foi Isabella Rosselini, pois sua irmã
gêmea Isotta não se sentiu atraída pelas artes cênicas e as luzes dos
refletores. Robertino (Robin) outro filho, preferiu ser corretor de imóveis.
“Queria
escrever uma carta para Petter e esclarecer tudo. Estavam chocados comigo. E eu
sentia que os jornais tinham razão. Eu havia abandonado minha família” -
relatos de sua autobiografia. O romance intempestivo prejudicou a carreira de
ambos.
Em 1975, Ingrid descobriu que estava
com câncer nos seios e precisou extrai-los. Depois, sob a direção de seu
patrício Ingmar Bergman filmou “Sonata de Outono” (1977). Em 1981, de malas
prontas, foi a Israel participar da minissérie para a televisão Golda, sobre
Golda Meir, uma das fundadoras do Estado de Israel. Ela era grande admiradora
de Golda Meir. Foi seu último trabalho.
Bergman amealhou ao longo da carreira
três Oscar:
a) À meia-luz: 1944 (atriz principal);
b) Anastácia, a princesa esquecida:
1956 (atriz principal) e;
c) Assassinato no Expresso do
Oriente: 1974 (atriz coadjuvante).
Trabalho
esses, talentosos, de merecido reconhecimento de crítica e público que antes
não lhe perdoaram.
Em 1978 recebeu indicação para o
Oscar em “Sonata de Outono”, dirigido por Ingmar Bergman, num filme denso, em
que ela contracenou com Liv Ullmann. As
duas deram um show de interpretação dramática.
Apesar do nome Bergman, Ingrid não
tinha nenhum parentesco com o festejado diretor Ingmar Bergman.
Ingrid Bergman nasceu em 29 de agosto de 1915
e morreu no seu apartamento em Londres, exatamente no dia que completaria
exatos 67 anos: 29 de agosto do ano de
1982.
Lá se vão cem anos sem Ingrid
Bergman. No cinema e na alma dos cinéfilos será eterna.
A narrativa de sua vida tão carregada
de esplendor e sofrimento já lhe valeria
um merecido filme.