Semana de 9
a 16 de dezembro de 2016
Súplica nordestina
(sobre o Rio São Francisco)
Poeta Paulo Ferreira da Rocha
Filho
I
Nordeste seco, estorricado
Paisagem tétrica, mundo
desolado
O outrora caudaloso e piscoso
São Francisco
Pode num futuro mapa ser apenas
um risco
II
Sertanejos como também os
agrestinos
Têm dúvidas sobre seus destinos
A água que representa a vida
Seca nos açudes deixando
todos à deriva
III
O rio sofre com poluição
Incrível, mesmo tendo a
população muita informação
Homem branco faz do rio seu
esgoto
Diferente do índio que o
tratava com gosto
IV
O Nordeste está em processo
de desertificação
Principalmente ação antrópica
– é a razão
É preocupação desde a época
da Coroa
Nada melhora, tudo só destoa
V
Em meados do século passado
uma voz ecológica clamava
De um profissional de mente
iluminada
Quem estuda Ecologia dele se
lembra com carinho
Do professor João Vasconcelos
Sobrinho
V I
Engenheiro Agrônomo
ambientalista
Neste país, dos melhores faz
parte de uma lista
Autor de mais de 20 trabalhos
sobre Ecologia
Numa época que essa ciência
dela pouco se ouvia
VII
Desmitificando a sofrida
realidade nordestina
A ciência com todo seu
aparato nos ensina
Dizer que o principal
problema é falta de água – é enrolação
Entre tantos outros, há o
latifúndio com atraso e dominação
VIII
Corroboro o que digo apoiado
na Climatologia
Fortes são os argumentos de
grande valia
Medidas em milímetros, chovem
300 em Israel
150 no Texas o que não é
nenhum novel
IX
No Nordeste chovem razoáveis
seiscentos
O Nordeste é viável – é
assunto que não invento
Por que então o Nordeste é
mais pobre que Texas e Israel?
Em termos comparativos, essa
região é quase um céu
X
Ainda existe uma “indústria
da seca”
Desde os tempos de antanho –
que ninguém esqueça
Precisa ser criada uma
política desenvolvimentista
Reeducando e politizando o
nordestino para que ele resista
XI
Muitas empresas por falta
d’água estão fechando
E o poder público nem pra
isso está ligando
Passa o tempo e não saímos
desse abecedário
Há probabilidade de o Velho
Chico ser rio temporário
XII
Muito desmatamento faz o leito
muito assoreado
Pasmem. Ninguém é
responsabilizado
Rio – “estrada que anda”
deslizando com facilidade
Virou passado, resta pouco de
navegabilidade
XIII
Ausência de vegetação ciliar
em longos trechos
Destruíram do rio seu
protetor adereço
Ver tamanha destruição talvez
ele não mais resista
O Velho Chico grita, chora.
Ninguém ouve – dói na vista
XIV
Para Euclides da Cunha o
sertanejo é antes de tudo um forte
Precisamos de infraestrutura,
Educação - um Norte
Transposição - é preciso
cautela – o rio pode se esgotar
Ele seca porque rio não é
mar.