sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Semana: 26 de dezembro de 2014 a 02 de janeiro de 2015

E C O L O G I A:
Vá procurar energia

          Os seres humanos são parte da natureza. Surgiram num processo que se estendeu por quase dois milhões de anos. Começaram a formar  civilizações há cerca de 8 mil anos – e só nos últimos duzentos a industrialização começou a alterar seus hábitos e afastá-los de um ritmo mais natural. Nas últimas quatro décadas, invadidos pela revolução tecnológica e às vezes apertados em imensos centros urbanos, milhões desses seres humanos foram jogados num regime de trabalho estafante, que gera ansiedade, competição, insegurança. São pessoas que vivem semiconfinadas em escritórios, congestionamentos, apartamentos. Respiram ar condicionado, não têm contato com o chão ou janelas que lhes mostrem o céu. Em fins de semana, seu mais duro exercício é caminhar do quarto à cozinha, levantar-se da poltrona para mudar o canal de tevê. É um modo de vida estranho a tudo o que, durante milhares de anos, condicionou seu organismo – daí o stress, as doenças, neuroses etc.
          Se sua vida é parecida com o modelo acima, procure mudá-la. Preencha as rotinas obrigatórias com intervalos saudáveis. Andar a pé nos parques, esquecer o carro na garagem, sair da cidade, deixar a tevê desligada, fugir de multidões e lugares fechados. E, o mais importante, voltar a sentir-se parte inseparável da natureza, para recriar as reservas de energia e serenidade. Em suma: preserve primeiro o seu ambiente interior.

    – Como defender a Ecologia. O Boticário – Editora Nova Cultural.    

Í N D I C E:

1)   Em cores
     - Jeane Hanauer -

   2)  Papai, não corra
 - Paulo Ferreira –

   3)  Carlos de Santi - medalhista
         - Paulo Ferreira –

  1)     Em cores

Domingo em outro país.
O arco-íris tinha as mesmas cores,
Mas a cor da íris
Era qualquer coisa sem precedentes.

 (Transcrito do livro Cronópio Godot da poeta Jeane Hanauer).





Ombudsman: engenheiro Artur Frassy
Acidente com vítimas fatais


Acidente com vítimas fatais

2)                   Papai, não corra

Paulo Ferreira

“Se todos dirigissem com cuidado, não haveria acidentes” – meu avô Pedro Alves de Oliveira (1898-1990).


S
egundo o IPEA, no Brasil, cerca de 40 mil pessoas morrem a cada ano vítimas de acidentes rodoviário a um custo de R$ 40 milhões. Esses números crescem no Carnaval e nos festejos de Natal e Final de Ano.
          Vivemos num mundo contra a vida – Paulo Leminski o disse muito bem. A televisão mostra repetidamente cenas de ultrapassagens perigosas, estradas esburacadas, motoristas dirigindo embriagados. Mas essa lição ainda não foi aprendida.
          Nosso maior patrimônio é a vida. E que sociedade é esta que não a respeita? É a banalização da morte e da violência, desta vez  no trânsito.   De tanto assistirmos nos noticiários ou até mesmo presenciando essas cenas, nos acostumamos e perdemos nossa sensibilidade. Falta uma visão filosófica: Um Filósofo jamais se acostuma com o mundo. A embriaguês tem um componente inserido numa cadeia social. Existe toda uma linha de produção, colheita, industrialização, logística, venda e distribuição de bebidas alcoólicas. O motorista bêbado não é culpado sozinho. A indústria de bebidas por sua vez, para desviar-se da culpa até faz comercial “bonitinho”, com a pueril mensagem: “Beba com moderação”. O que é moderação? A minha moderação é a mesma para todo mundo? O imposto que o Estado arrecada paga o preço de tantas vítimas?
          O homem como ser uno não sobrevive em nenhum sistema nem tampouco reproduz a própria espécie. Precisamos nos conscientizar que problema de um é problema de todos. O que tem a ver uma pessoa que mora no Amazonas com uma outra que se acidenta em São Paulo? Muita coisa. E muita mesmo. A vítima vai ser socorrida e levada para um hospital. Alguém vai deixar de fazer alguma coisa para socorrê-la. O carro ou ambulância consome gasolina, gasto com salários de motorista, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e toda uma estrutura para permitir o necessário socorro e acompanhamento. E para mim que estou escrevi este texto e você leitor que agora o lê, é um tipo de efeito de onda bidimensional – é aquela onda que ocorre quando jogamos uma pedra num lago e depois atinge toda margem. E assim, essa “onda dos acidentes” nos atinge. Quer queiramos ou não o custo social dos acidentes é avassalador, além da perda do ente querido, família desamparada e enlutada.
          Para o motorista prudente, a Carteira Nacional de Habilitação – CNH é uma Carteira Nacional de Habilitação. Para o motorista imprudente e que se embriaga, a Carteira Nacional de Habilitação passa ser um Porte de Arma. Na sua conseqüência funesta ele pode matar. Mas também pode morrer. Os kamikazes pilotos japoneses suicidas na Segunda Grande Guerra eram o próprio “míssil”. Mas o Japão lutava contra os aliados e eles assim determinaram o tresloucado ato quando 2.525 pilotos morreram causando a morte de 5.900 soldados aliados. Isso já  acabou. Tem uma diferença: Na “guerra do trânsito” no Brasil, continuamos matando a cada ano. Mas não estamos em guerra. Estamos na “paz” – a paz do inferno.
         


3)      Carlos de Santi - medalhista no esporte

Paulo Ferreira

“De nossos colegas que jogam bola,  Santi é quem joga melhor” -  (Delvair Queiroz Demitrovich – 1971 - 2013)


C
olunista de “Pingos de Filosofia” Carlos de Santi foi homenageado com a Seleção do Amadorzão 2014.
          A entrega dos prêmios foi na noite de terça-feira, 16 do corrente mês em evento promovido pela afiliada da Globo RPC TV, além de representantes da Rádio Transamérica Foz (104,5 FM). A votação foi feita pelos capitães, técnicos e imprensa. Quanto à organização coube à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SMEL), com apoio da Liga Iguaçuense de Futebol (LIF) e RPC TV em Foz do Iguaçu – Paraná.
          O cerebral Carlos de Santi é ao mesmo tempo espartano e ateniense. Impõe a si mesmo uma disciplina rígida com metas determinadas e atingidas. É também zeloso gestor público com competência sobejamente conhecida e reconhecida. Lê bastante.
          No esporte é muito empenhado, também ético e de fino trato com a bola. O prêmio é um reconhecimento ao esforço e virtuose desse grande atleta.
Relação dos laureados:
Goleiro – Bizu (do Jardim São Paulo);
Lateral-direito – Lucas Oldra (do Aparecidinha);
Zagueiros – Morcego (do Vila C) e Buiu (da Portuguesa);
Lateral-esquerdo – Esquerdinha (do Canarinho);
Volantes – Carlos de Santi (do Aparecidinha) e Bahia (do Três Lagoas);
Dupla de meias – Thiago Martins (do Jardim São Paulo) e Leandrinho (do Vila Miranda) e Baby (do Jardim São Paulo).

          

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Semana: 19 a 26 de dezembro de 2014

E C O L O G I A:
Mude, para mudar a Terra

          Seu apoio à causa ambientalista pode começar com uma avaliação de sua própria rotina. Você fuma? Faz exercícios? Come carne todo dia? Adora refrigerantes e bebe cerveja em lata? Não resiste a um doce de chocolate? Vai de carro mesmo a lugares próximos de casa? Não há dúvida: seu estilo de vida, goste ou não, é prejudicial a você e ao meio ambiente. Esforce-se por mudá-lo. Dói menos do que parece, e traz resultados muito rápidos.

    – Como defender a Ecologia. O Boticário – Editora Nova Cultural.    

Í N D I C E:

1)   Braile
     - Jeane Hanauer -

   2)  Jesus Cristo X Papai Noel
 - Paulo Ferreira –

1)    Braile

Penso que agora terei que pedir licença para morrer um pouco. Com licença – sim? Não demoro. Obrigada.
(Clarice Lispector, Água Viva).

          Ele realmente tinha mãos,
É preciso deixar isso bem esclarecido.
Duas mãos.
Eu as olhei bem e posso dizer coisas sobre elas.
Posso dizer que eram mãos de um homem que respira.
Mãos silenciosas,
De Conforto visível,
De finos convites subliminares.
As ardências ficam em meu encalço
E eu dedico todas as virtudes de minhas velozes retinas nesta observação lânguida.
É uma calamidade o que me sucede, eu sei.
É um lodo de miséria.
Uma crueldade,
Examinar mãos alheias em braile.

 (Transcrito do livro Cronópio Godot da poeta Jeane Hanauer).




Ombudsman: engenheiro Artur Frassy




Jesus Cristo X Papai Noel

Paulo Ferreira

“O meu reino não é deste mundo” – João 18:36.


N
o filme Batman (1989) do diretor Tim Burton, o talentoso Jack Nicholson (Curinga) tomou conta de todo o filme e “apareceu” mais que o ator principal Michael Keaton (Batman). Remeteu o homem-morcego a um segundo plano - à escuridão das cavernas.
        No Brasil, A dupla musical de maior volume de composições – mais de 500 é formada por Roberto e Erasmo Carlos. O primeiro sempre rouba a cena e o segundo muitas vezes nem recebe os créditos  merecidos. Para mostrar essa injustiça com o “amigo de fé, meu irmão camarada” – (música da dupla), o recentíssimo cd gravado por Roberta Miranda traz como título: “Roberta Miranda canta Roberto”. Do total de 12 músicas, 10 foram compostas pela dupla e somente duas do Roberto. Não seria correto “Roberta canta Roberto e Erasmo”? O curioso é que nem os próprios colegas músicos reconhecem a situação e insistem nesse erro crasso – está lá estampado na capa do disco.  O resto do país repete esse mesmo deslize. Neste caso, somente um aparece – os louros da vitória. O Outro, ilustre anônimo – remetido à caverna do esquecimento. Com isso já identificamos quem rouba a cena.
          Natal se avizinha. As pessoas começam a pensar na compra ou troca de carro, aquisição de casa, apartamento, roupa nova, sapato, computador. Enfim, presentes para todas os gostos e posses. É o efeito do 13º salário turbinando a economia e a nossa “felicidade”. E nessa euforia pandêmica, surge Papai Noel – o maior vendedor do mundo.
          Foi atribuída a data de 25 de dezembro como dia do nascimento de Jesus Cristo. Na realidade, a data de  nascimento de Cristo ninguém sabe. Apenas a de sua morte. E o próprio Jesus pediu para comemorar sua morte (1) não o nascimento. Comemoração do nascimento de Cristo é feita desde o século IV. A tradição evoca troca de presentes, viagens e a exigência do novo. Tudo em nome de Papai Noel - o velhinho de barba branca (cor da neve) com as roupas vermelha e branca (cor da Coca Cola) é avassalador. Aliás, a Coca Cola ajudou a fixar a imagem do Papai Noel em uma grande campanha publicitária do ano de 1931.
          Nascidas e criadas nesse modelo, muitas crianças pensam que Natal é festa para Papai Noel. E esse conceito é densamente reforçado porque muitas músicas natalinas se referem mais a Papai Noel que Jesus Cristo. E Jesus Cristo? Pelo IBOPE está com pouca audiência. Isso nos reporta ao ano de 1966 quando John Lennon (1940-1980) líder da maior banda de todos os tempos – The Beatles bradou para o mundo: “Somos mais populares que Jesus Cristo”.
          Passados mais de dois mil anos desde seu nascimento, cantores, atores, jogadores de futebol e outros de várias performances puxam para si o centro das atenções – os holofotes da fama, muitas vezes instantâneas. Deixamos Jesus Cristo apenas como mero coadjuvante no filme de nossas vidas.
          Na hora do perigo, doença, desgraça sofrimento, iminência de morte, ninguém chama Papai Noel. È nessa hora que o IBOPE de Jesus Cristo alcança 100% de audiência – 1º lugar incontestável e o velhinho com seu saco de presentes se volatiliza em nossos pensamentos.
           A maior e primeira revolução que o ser humano pode e deve fazer é transformar-se dentro de si mesmo. E você não consegue transformar o outro se primeiramente você não se transformou. Sem isso, o “venha nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade...” que rogamos quando oramos o Pai Nosso não funciona. São palavras estéreis e nuas.
          Mesmo não sendo verdadeiramente uma festa de cunho bíblico e sim uma festa pagã, na consoada, elevemos os nossos pensamentos a esse grande vulto – Jesus Cristo que dispensa presentes e deu a vida para salvar nossas vidas.

(1) Lucas 22:19

     1 Coríntios 11:23 a 25.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Semana: 12 a 19 de dezembro de 2014

E C O L O G I A:

O verde, alegre e sereno

          Esta é uma causa alegre, em defesa da vida contra a morte – portanto, se você pretende apóia-la, tome cuidado contra um risco importante, o de tornar-se um ecologista chato. Não tente impor seus hábitos e opiniões aos outros, nem pretenda parecer superior. Aprenda com a natureza a confiar no ritmo, no tempo, na persistência: os resultados falarão por si. O meio ambiente não precisa de adversários, mas de amigos. Ajude a conquistá-los.

    – Como defender a Ecologia. O Boticário – Editora Nova Cultural.    

Í N D I C E:

1)  Carvões
     - Jeane Hanauer -

   2) Ágoras, praças públicas e Shopping Centers: O que mudou
 - Paulo Ferreira –


1)   Carvões

              Botou até colcha na cama
Ornou colcha e esperanças minguadas.
Na vida esturricada de sempre,
Essa poeira na garganta
E teias antigas nos olhos.
Tenta-se de tudo,
Quando pestes predestinadas
Conduzem de fio a pavio
A peregrinação diária.
E até de carvões tenta-se extrair
Sabe-se lá Deus o quê?
     
(Transcrito do livro Cronópio Godot da poeta Jeane Hanauer).




Ombudsman: engenheiro Artur Frassy






Foto 1 - Antiga Ágora na Tessalônica


Foto 2 - Praça Getúlio Vargas em Foz do Iguaçu - Paraná

Foto 3 - Interior do Shopping Cataratas em Foz do Iguaçu - Paraná

Ágoras, praças públicas e Shopping Centers: O que mudou

Paulo Ferreira

“Se escolhermos, poderemos viver em um mundo de reconfortante ilusão” - Noam Chomsky –
                    
A
 emblemática democracia grega tinha como berço e reduto  ágoras – praça pública central, também centro administrativo, religioso e comercial nas cidades onde se realizavam as assembléias políticas - eclésias. Era praticada a democracia participativa. Problemas e questões de toda monta eram julgados na presença [de uma parte] do povo.  Somente cerca de 10% da população dela participavam. Ficavam de fora estrangeiros residentes, escravos e mulheres; ou seja, a maior parte da população. Apesar desses limites, a decantada democracia grega serviu como espelho para o ocidente, mas foi implantada de forma diferente; enclausuraram-na em portentosos palácios fortemente vigiados, com restrito acesso ao povo com uma radical mudança em sua estrutura e fisiologia. Se na Grécia antiga existia a democracia participativa, os países que a copiaram, mudaram para democracia representativa como vemos hoje com representantes eleitos pelo povo. Com isso Diminuíram o verdadeiro sentido da democracia e também o tamanho da cidadania quando “cassaram” o poder das ágoras.
          Como referência de localização, ponto de encontro, testemunha dos primeiros namoros de muitos jovens, as atuais praças públicas há muito perderam a paisagem que vicejava sua forma, sua arquitetura. Nos bairros, durante a semana com aulas e trabalho, para muita gente a praça servia como passagem de pessoas; umas apressadas, outras nem tanto. Muitas, visitantes ocasionais sentavam nos convidativos bancos de cimento ou madeira para descansar, passar tempo, contemplar as natureza morta e a viva. No sábado a frequência aumentava. Os bancos acolhiam a todos, era até uma espécie de confessionário mudo, impassível que a tudo ouvia e nada dizia. Nas conversas soltas, leves; outras nem tão leves. Falava-se de futebol, de copa do mundo, de música, cinema, de baile, das meninas, dos meninos. Os rapazes tinham suas musas; a moças, seus Apolos. Cada um tinha sua fantasia e nem sempre esses devaneios eram realizados. Ah se aqueles bancos falassem...
          Drogas, nem pensar. Há cerca de trinta anos o universo de substâncias alucinógenas era até um pouco diminuto. Uma vez por outra, a maconha era tragada e logo esse infrator era excluído do grupo a qual pertencia. 
          Domingo à noite era quando a praça ganhava mais vida. Geralmente praça e igreja eram vizinhas. E praça e igreja dividiam cada uma a seu momento, as pessoas que as freqüentavam. Depois da missa, a visita à praça era quase obrigatória. E mais ainda, quando das quermesses, festas pitorescas, do Carnaval, São João, Natal – tudo era vida, luzes e cores. Para combinar com tudo isso, nada melhor que as roupas mais novas – as domingueiras – item imprescindível. Afinal, o passeio pela praça era um desfilar de uma passarela a todos disponível. Nem era preciso dinheiro. Morava-se no mesmo bairro. Também não precisava de ônibus ou outro meio de transporte – tudo estava ali. A preços módicos se comprava um saquinho de pipoca e oferecia a paquera ou namorada. Andar na roda-gigante e outros tipos de diversão era desafiador. Em tempos de festas funcionava o serviço de alto-falante. Nele se enviava “telegrama” mais ou menos assim: “atenção moça de cabelos lisos com fitinha rosa. Você é a moça mais brilhante desta festa. Assinado: Apaixonado anônimo”. Nisso, as horas iam seguindo seu curso natural, 22Horas, 23Horas 0Hora... Daí, as apresentações iam sendo exibidas e como era de se esperar, vem cansaço e sono que vencem qualquer guerreiro espartano. Aos poucos, paulatinamente, todos divergiam para seus lares. A praça bonita e enfeitada, aos poucos ficava agora nua de gente.  Na segunda-feira a praça descansava mais uma vez de um final de semana denso e alegre. Assim voltava ao seu normal. Ou anormal.
          Os tempos mudaram. O aconchego, calor humano e a poesia que da praça emanavam ficaram cobertos pela poeira do tempo - agora é arcaísmo. Trocamos as singelas praças pelos modernos Shoppings Centers - Nos americanizamos. Com a crescente e avassaladora onda de violência, mais recrudesceu a “necessidade” de termos esses templos de consumo - O Shopping Center é um gueto - uma realidade plástica, e atípica fora das outras realidades. Nele tudo é artificial. O frêmito do trânsito enlouquecido fica lá fora. Aqui dentro. a temperatura é aclimatada tecnologicamente.  Bancos para sentar são esporádicos, a não ser aqueles estrategicamente colocados para você ter que ser induzido a consumir alguma coisa. Isto porque sem poder sentar, as pessoas se obrigam a ficar se movimentado de loja em loja, sendo lentamente “hipnotizadas” pelos apelos de novos produtos sedutoramente exibidos. Comprar quase não tem limites. Para isso têm as “promoções a preço de custo”, o crédito fácil e instantâneo até sem fiador. Depois de várias caminhadas e travessias, o deslumbramento irresistível na parte destinada à alimentação. É quando olfato e visão em “combinada” cumplicidade e provocando sialorreia, evocam um lanche, ou uma refeição completa acompanhada de um suco, refrigerante ou até mesmo cerveja. Também houve mudanças. Claro que no lado social Shoping gera emprego. Mas segundo o ex-deputado paraibano Gilvan Freire, para cada emprego nos shoppings três pessoas ficam desempregadas no comércio dos bairros. É como se fosse uma “antropofagia” nos negócios.
          Muitas pessoas comem em casa e aqui comem novamente. Até se empanturram. Principalmente os pantagruélicos. Agora já é possível sentar, mas não para descansar. As mesas dos fast foods estão espacialmente dispostas para receber desde pessoas solitárias, casais, amigos e famílias para se juntar aos demais comensais do recinto. Agora, o descansar é conseqüência do consumo. Pagou-se para isso. E como também o passear está associado a comer, porque os encontros acontecem nos shoppings, pelo fato de se comer e beber, muitas vezes até sem necessidade, estatisticamente mais da metade da população está cada vez mais gorda e obesa, inclusive crianças.
          As pessoas já não andam com o mesmo tipo simples de roupas, também não se conhecem. Um rosto familiar nem sempre é visto, salvo algumas exceções. Os sorrisos são artificiais.   Vir aqui requer poder de compra para adquirir alguma tentação exposta nas prateleiras ou do contrário, volta-se para casa frustrado – uma porta aberta para a depressão – doença do século. Mas também Shopping serve como “terapia” porque muita gente é “feliz” quando está comprando alguma coisa. Pode-se comprar um carro – indicador social ou até mesmo uma inútil e descartável quinquilharia seja ela qual for. A felicidade que outrora nascia em cada um de nós, agora está logo ali à venda nas vitrines da ilusão. Os namoros denotam uma mudança comportamental. Namorar sem poder pagar um lanche para a namorada, não poder ir assistir ao último lançamento de Hollywood em cartaz pode até ser estressante. A cultura do vencedor, da exclusão social aqui é tacitamente reverenciada. É difícil ser filho e também pai. Filho ainda em tenra idade já é estimulado a comprar e até opinar com certa autoridade. Para pai e mãe, haja dinheiro saindo pelo ralo da carteira. Chegar aqui sem carro é quase que “humilhante”. Muito se fala das redes sociais com jovens cada vez mais plugados e “interagindo”. Quem passa a maior parte do tempo em computador, tablet, MSN, Facebook, celular e outros chamarizes da tecnologia está interagindo com quem? Com ninguém. Nem consigo mesma a pessoa se interage. Vivemos em tempos de exposição cada vez maior e com privacidade cada vez menor. As câmaras nos vigiam a cada movimento. Já não somos mais nem donos de nossas próprias imagens captadas em centenas de câmaras, estrategicamente instaladas nas lojas e também nos serviços de segurança da administração dos shoppings. O que depois fazem com as nossas imagens não sabemos. É o panótico na sua forma mais exacerbada. – É o que Michael Foucault (1926-1984) se referia na Microfísica do Poder onde as sociedades modernas apresentam uma maneira diferente de expressar uma nova organização de poder e, que se desenvolveu a partir do século XVIII evoluindo até os nossos dias. O poder dessa maneira, não se concentra apenas na área política ou nas suas formas de repressão, porque ele está fragmentado em vários matizes dos estratos sociais. É no uso do CPF, os pais, os porteiros, policiais, fiscais, praças de pedágios.   É uma das formas de controle sobre a população.
          Os espaços públicos são cada vez apropriados pelo poder do capitalista. Muitas vezes com generosos subsídios públicos. O acesso que era livre passa a ser cobrado. Até parece um sistema de castas. Os que podem mais pagam mais.  Quem não tem bom poder de compra sente-se afugentado, somente lhe sobrando a periferia porque a cidade parece que não foi projetada para ele. O próprio poder público comete essa improbidade quando cobra estacionamento de automóveis nas ruas que são públicas. Com isso, cada vez mais nossa cidadania míngua progressivamente e os governantes deixam-nos somente com o direito de votar.
          Ser moderno é assim: isolamento com sensação de interação, distância com impressão de proximidade - e dinheiro é o metro que nos mede.
          Escassos ficam sentimentos como amor, coleguismo, solidariedade, altruísmo e outros que dão sustentação e torna coeso o mais simples grupo social até a humanidade. Está se construindo um mundo frio, descartável em que se lida mais com signos e menos com gente. A Estética vale mais que a Ética. Os relacionamentos são efêmeros e voláteis. Hoje é visível a imensa procissão de jovens – andróides e ginóides melancólicos, frágeis, inseguros, sem determinação, sem um norte, sem laços familiares e sociais onde predomina o é proibido proibir - tudo é permitido. É a sagração do hedonismo.
          Mataram o amor e a civilidade com a bandeira da Pós-Modernidade.

Observação:
a)    Foto 1: Antiga Ágora na Tessalônica;
b)   Foto 2: Praça Getúlio Vargas em Foz do Iguaçu – Paraná com uma edificação há anos instalada e esta em fase de conclusão – O próprio Poder Público atropela nossos direitos – Edificações em praça;
c)    Foto 3: Vista interior do Shopping Cataratas em Foz do Iguaçu – Paraná.







sexta-feira, 5 de dezembro de 2014






2) Eis que tornam nossas vidas difíceis mesmo com a Semiótica

Paulo Ferreira


“Não temos educação do ponto de vista da igualdade. Obedecer no Brasil significa subordinação e inferioridade. Quem é superior não obedece”  – Roberto DaMatta.   

S
emáforo fechado e eu passando na faixa de pedestres. Um condutor força a situação, faz uma conversão que não devia e quase me atropela. O carro diminuiu a velocidade em frente a mim e, eu pensando como me defender do gigante de ferro dirigido por um sei lá o quê, não sabia para que lado pular. Isso se ainda tivesse tempo para tal. Senti-me indefeso como se estivesse numa arena romana diante de leões - a luta é desproporcionalmente desigual e já se sabe quem a vence. Mais adiante, a caminho de casa, vejo um outro carro, desta vez estacionado com parte traseira na faixa amarela (piso tátil) da calçada destinada ao cadeirante ou  deficiente visual. No dia seguinte, em frente a uma academia de ginástica com sinalização horizontal no asfalto demarcando estacionamento para deficiente físico fiquei observando. Fiquei lá de plantão, à espreita que algum condutor “bem de saúde para dar e vender”, atleta de bom desempenho físico e com visão total estacionasse seu carro em local inapropriado. Demorou pouco. O carro da foto chegou impávido, determinado. Dele saíram três pessoas bem de saúde e se dirigiram à academia. Essa anomia classificada como Infração Leve pelo Código de Trânsito Brasileiro – CTB gera multa de R$ 53,20 com perda de três pontos na Carteira de Habilitação. E mesmo assim para alguns como vimos, é coisa tolerável.
        A sociedade para se comunicar, construiu vários códigos. Tudo começou desde os primórdios, no Paleolítico (Idade da Pedra Lascada – 4,5 milhões a 10.000 a.C.) com a descoberta do fogo, linguagem oral e da escrita. A Narrativa do Mito acaba aqui e, começa uma nova abordagem no campo dos sinais, que viria a ser conhecida milênios depois como Semiótica.
          Para analisarmos a situação em que uma pessoa de sã consciência (podendo ao mesmo tempo não ser consciente), estacionar um carro em vaga para deficiente físico, é um atropelamento que engloba todas as relações sociais. No asfalto (ver foto) existem dois signos (no caso, ícones) estrategicamente pintados, e que representam o deficiente físico – tem um apelo semiótico. Neste caso, trata-se do uso da metalinguística – quando o discurso se concentra no código. Mas se tudo é socialmente construído, os signos que irão compor uma linguagem é uma apropriação social.
          Um motorista infrator que está sempre desrespeitando o mesmo código é porque lhe falta o conceito de responsabilidade social, pois se essa operação por mais repetida que seja não lhe cria um hábito que produza um efeito desejado, a semiose (processo mental para identificar ou criar situação de solução) fracassou por culpa do próprio protagonista. Saindo do campo da Semiótica, passando pela Ética e adentrando na Psicologia da Diferença e Psicologia Social – que é estar no mundo com os outros, o caminho pavimentado com erros continua. Além de atropelar os direitos do Portador de Necessidades Especiais – PNE também atropela Descartes – Pai da Filosofia Moderna que argumentava: “As coisas que são propostas como primeiras devem ser reconhecidas sem a ajuda das seguintes”. O errar consciente e com prepotência independe de escolaridade e saldo bancário. O condutor do veículo estacionado no espaço para deficiente é um atleta que foi à academia fazer ginástica e é odontólogo. Deixou por terra (no asfalto) toda uma construção de linguagem para proteger o deficiente físico. O odontólogo deve ter pelo menos uma deficiência: Cegueira Social.
          Se a o dia-a-dia já não é tão fácil para quem tem mobilidade total, imagine o contrário, para os que não podem se locomover ou tem mobilidade reduzida, e enxergam pouco ou nada.