Acidente com vítimas fatais |
Acidente com vítimas fatais |
2) Papai, não corra
Paulo
Ferreira
“Se todos dirigissem com cuidado, não
haveria acidentes” – meu avô Pedro
Alves de Oliveira (1898-1990).
S
|
egundo
o IPEA, no Brasil, cerca de 40 mil pessoas morrem a cada ano vítimas de
acidentes rodoviário a um custo de R$ 40 milhões. Esses números crescem no
Carnaval e nos festejos de Natal e Final de Ano.
Vivemos num mundo contra a vida
– Paulo Leminski o disse muito bem. A televisão mostra repetidamente cenas de
ultrapassagens perigosas, estradas esburacadas, motoristas dirigindo
embriagados. Mas essa lição ainda não foi aprendida.
Nosso maior patrimônio é a vida. E
que sociedade é esta que não a respeita? É a banalização da morte e da
violência, desta vez no trânsito. De tanto assistirmos nos noticiários ou até
mesmo presenciando essas cenas, nos acostumamos e perdemos nossa sensibilidade.
Falta uma visão filosófica: Um Filósofo jamais se acostuma com o mundo. A embriaguês
tem um componente inserido numa cadeia social. Existe toda uma linha de produção,
colheita, industrialização, logística, venda e distribuição de bebidas
alcoólicas. O motorista bêbado não é culpado sozinho. A indústria de bebidas
por sua vez, para desviar-se da culpa até faz comercial “bonitinho”, com a
pueril mensagem: “Beba com moderação”. O que é moderação? A minha moderação é a
mesma para todo mundo? O imposto que o Estado arrecada paga o preço de tantas
vítimas?
O homem como ser uno não sobrevive em
nenhum sistema nem tampouco reproduz a própria espécie. Precisamos nos
conscientizar que problema de um é problema de todos. O que tem a ver uma
pessoa que mora no Amazonas com uma outra que se acidenta em São Paulo ? Muita coisa.
E muita mesmo. A vítima vai ser socorrida e levada para um hospital. Alguém vai
deixar de fazer alguma coisa para socorrê-la. O carro ou ambulância consome
gasolina, gasto com salários de motorista, médicos, enfermeiros, auxiliares de
enfermagem e toda uma estrutura para permitir o necessário socorro e
acompanhamento. E para mim que estou escrevi este texto e você leitor que agora
o lê, é um tipo de efeito de onda bidimensional – é aquela onda que ocorre
quando jogamos uma pedra num lago e depois atinge toda margem. E assim, essa
“onda dos acidentes” nos atinge. Quer queiramos ou não o custo social dos
acidentes é avassalador, além da perda do ente querido, família desamparada e
enlutada.
Para o motorista prudente, a Carteira
Nacional de Habilitação – CNH é uma Carteira Nacional de Habilitação. Para o
motorista imprudente e que se embriaga, a Carteira Nacional de Habilitação
passa ser um Porte de Arma. Na sua conseqüência funesta ele pode matar. Mas
também pode morrer. Os kamikazes pilotos japoneses suicidas na Segunda Grande
Guerra eram o próprio “míssil”. Mas o Japão lutava contra os aliados e eles
assim determinaram o tresloucado ato quando 2.525 pilotos morreram causando a
morte de 5.900 soldados aliados. Isso já acabou. Tem uma diferença: Na “guerra do
trânsito” no Brasil, continuamos matando a cada ano. Mas não estamos em guerra. Estamos na
“paz” – a paz do inferno.