sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Acidente com vítimas fatais


Acidente com vítimas fatais

2)                   Papai, não corra

Paulo Ferreira

“Se todos dirigissem com cuidado, não haveria acidentes” – meu avô Pedro Alves de Oliveira (1898-1990).


S
egundo o IPEA, no Brasil, cerca de 40 mil pessoas morrem a cada ano vítimas de acidentes rodoviário a um custo de R$ 40 milhões. Esses números crescem no Carnaval e nos festejos de Natal e Final de Ano.
          Vivemos num mundo contra a vida – Paulo Leminski o disse muito bem. A televisão mostra repetidamente cenas de ultrapassagens perigosas, estradas esburacadas, motoristas dirigindo embriagados. Mas essa lição ainda não foi aprendida.
          Nosso maior patrimônio é a vida. E que sociedade é esta que não a respeita? É a banalização da morte e da violência, desta vez  no trânsito.   De tanto assistirmos nos noticiários ou até mesmo presenciando essas cenas, nos acostumamos e perdemos nossa sensibilidade. Falta uma visão filosófica: Um Filósofo jamais se acostuma com o mundo. A embriaguês tem um componente inserido numa cadeia social. Existe toda uma linha de produção, colheita, industrialização, logística, venda e distribuição de bebidas alcoólicas. O motorista bêbado não é culpado sozinho. A indústria de bebidas por sua vez, para desviar-se da culpa até faz comercial “bonitinho”, com a pueril mensagem: “Beba com moderação”. O que é moderação? A minha moderação é a mesma para todo mundo? O imposto que o Estado arrecada paga o preço de tantas vítimas?
          O homem como ser uno não sobrevive em nenhum sistema nem tampouco reproduz a própria espécie. Precisamos nos conscientizar que problema de um é problema de todos. O que tem a ver uma pessoa que mora no Amazonas com uma outra que se acidenta em São Paulo? Muita coisa. E muita mesmo. A vítima vai ser socorrida e levada para um hospital. Alguém vai deixar de fazer alguma coisa para socorrê-la. O carro ou ambulância consome gasolina, gasto com salários de motorista, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e toda uma estrutura para permitir o necessário socorro e acompanhamento. E para mim que estou escrevi este texto e você leitor que agora o lê, é um tipo de efeito de onda bidimensional – é aquela onda que ocorre quando jogamos uma pedra num lago e depois atinge toda margem. E assim, essa “onda dos acidentes” nos atinge. Quer queiramos ou não o custo social dos acidentes é avassalador, além da perda do ente querido, família desamparada e enlutada.
          Para o motorista prudente, a Carteira Nacional de Habilitação – CNH é uma Carteira Nacional de Habilitação. Para o motorista imprudente e que se embriaga, a Carteira Nacional de Habilitação passa ser um Porte de Arma. Na sua conseqüência funesta ele pode matar. Mas também pode morrer. Os kamikazes pilotos japoneses suicidas na Segunda Grande Guerra eram o próprio “míssil”. Mas o Japão lutava contra os aliados e eles assim determinaram o tresloucado ato quando 2.525 pilotos morreram causando a morte de 5.900 soldados aliados. Isso já  acabou. Tem uma diferença: Na “guerra do trânsito” no Brasil, continuamos matando a cada ano. Mas não estamos em guerra. Estamos na “paz” – a paz do inferno.