sexta-feira, 31 de julho de 2015



           
             Disco Araçá Azul - Foto Ivan Cardoso
Caetano de cueca - foto Paula Lavigne
                
Caetano Veloso e a cueca da liberdade – É proibido proibir

Paulo Ferreira

“A imagem é uma criação pura do espírito. Ela não pode nascer da comparação, mas da aproximação de duas realidades mais ou menos remotas. Quanto mais longínquas e justas foram as afinidades de duas realidades próximas, tanto mais forte será a imagem – mais poder emotivo e realidade poética ela possuirá...” – Pierre Reverdy – Citado
por André Breton – 1924 in Manifesto do Surrealismo.

D
ias atrás, 16 de julho de 2015, uma  foto do superstar Caetano Veloso deu o que falar. Após o show com Gil “Dois Amigos, Um Século de Música” em Montreaux (Suíça), Xandy e Carla Perez pediram para ver Caetano. Prudente, Paula Lavigne produtora e ex-mulher do cantor, perguntou se não teria problemas, pois o músico “estava se refrescando”. Fotografia tirada e logo postada. Muita gente ficou indignada com a censura vitoriana. Uma colega minha não gostou “das bolas” do Caetano.
           Xandy depois comentou no programa televisivo Encontro – de Fátima Bernardes: “se tratando de Caetano, é normal. O que não é normal sou eu e a Carla na foto.” Analisando fatos e foto, foi muito barulho por nada. Até mesmo porque se trata de Caetano, como bem disse Xandy. Nudez ou quase isso nunca foi problema para esse baiano de Santo Amaro da Purificação. Seu álbum Araçá Azul (1) de conteúdo experimental traz na capa o artista de sunga diante do espelho – um mergulho no mito de Narciso que Veloso canta na música Sampa: “é que Narciso acha feio o que não é espelho.” O Caetano no estilo Pasolini não liga para “essa questão moral”. Um Caetano amoral e atemporal responde com um “é proibido proibir” – semente e árvore do Tropicalismo.  Ele [e Gil] até já usaram saias. Usando uma frase do poeta Décio Pignatari é tudo uma“Geleia Geral” - título também da  música-manifesto no emblemático disco “Tropicália” ou Panis et circencis (1968).
          A foto, numa perspectiva e interpretação semiótica merece ser discutida. Cueca e short para banho têm os mesmos contornos. Os transtornos provocados são diferentes. Não existe impacto visual entre o short no disco e a cueca “censurada”. A semiose é a mesma. Foram buscar argumentos repressivos na etimologia.  Uma mesma foto com um mesmo enquadramento da que foi tirada por Lavigne, mas sendo citada de que se tratava de um short de banho, seria “moralmente” aceitável. Até passaria despercebida. Como foi citado que era uma prosaica cueca, não pode. Estranha-se ainda mais num mundo densamente erotizado com imagens de homens e mulheres em trajes sumários e, até resvalando-se para a ausência destes em revistas, filmes e, televisão, ainda cause tanto rubor e celeuma. Somos uma Sociedade do Espetáculo – imagem é nosso bem maior – mudanças dos tempos: Corpo bonito, atlético, sarado passou a ser Currículo Vitae. Metro que muitas vezes mede muitos de nossos “talentos”.
          1968, segundo Zuenir Ventura, O ano que não terminou. Tempos conturbados no Brasil e na França. Em 15 de setembro desse mesmo ano, no III Festival Internacional da Canção, da Globo, o jovem Caetano Veloso tentando cantar “E proibido proibir” sob  estrepitosa vaia. Discursava de improviso: “Mas é isso que é a juventude que quer tomar o poder. Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos...”
         A indignação do Caetano em 1968 quanto ao poder nas mãos daquela juventude já aconteceu. Chegamos ao poder. Finalmente. Para quê?  No descalabro social, alguns de nós somos indiferentes, outros cúmplices, outros corruptos, uns poucos honestos e Éticos. Repudiamos a cueca do Caetano, mas abraçamos o lixo cultural que as mídias nos impõem. Repudiamos a cueca do Caetano, mas cruzamos os braços para as péssimas condições da Saúde Pública, Transporte, Educação e Segurança.
          Enquanto isso, Caetano segue consciente de seu mundo dos sentidos e de seu mundo das ideias “sem lenço, sem documento, nada nos bolsos ou nas mãos...”, mas também “impávido que nem Mohamed Ali..” “Tranquilo e infalível como Bruce Lee...”
          Vou fazer da cueca do Caetano minha bandeira de liberdade – Viva a liberdade!


(1) Disco Araçá Azul – 1973 - tem capa de Luciano Figueiredo e Oscar Ramos. Fotos de Ivan Cardoso.


sexta-feira, 24 de julho de 2015

         
 Tocqueville - Foto Internet

                                                   

Gal. Olympio Mourão - Foto Internet
Brasil – salvem-se quem puder e as lições de Olympio Mourão e Tocqueville na  Ditadura da Mediocridade

Paulo Ferreira

“Só a ignorância aceita e a indiferença tolera o reinado da mediocridade” – José de Alencar.                

N
o século XIX, o homem mais famoso do mundo era Napoleão Bonaparte (1769-1821). O segundo, Alexander Von Humboldt geógrafo e Naturalista. Aquele se impôs pela força; este, pelo conhecimento. Esse maniqueísmo tinha de um lado a força da espada; do outro, a força do conhecimento - duas formas do poder.
          Hoje, muita coisa mudou. Como vaticinara Andy Warhol: “no futuro todos terão 15 minutos de fama.” Facilidade para tal é o que não falta. As mídias, principalmente a televisiva escancara as “portas da felicidade”. Vale tudo. Tem que ser necessariamente um assunto ou proeza que chame a atenção – boa qualidade nem sempre conta. O importante é aparecer e, a televisão esfomeada por audiência, abriga a tudo e a todos – para o mal e para o bem.
          É natural que queiramos ter certo destaque no convívio social – faz parte da condição humana – objeto de estudo da Psicologia Social. Mas esse destaque precisa ter um papel positivo na construção da sociedade. Sem esse propósito, fica no campo da alienação. É o que vemos grassar todos os dias. Fatos quase sempre corriqueiros, com valor duvidoso executados por ineptos são mostrados pelas luzes dos holofotes da fama.
          O cerebral jornalista prof. Carlos Gruber, preocupado com essas questões, em aulas já comentou filosoficamente no caráter noticialidade dos fatos, no que vai ser divulgado, tipo: “Essa notícia é boa para quem”? “Melhora as condições das pessoas?” “Constrói um mundo melhor”?
          O bom discípulo aprende com os mestres. Procurarmos seguir seu exemplo. E pensando nisso tudo, no dia 8 de julho de 2015, anotamos várias “notícias” veiculadas na impressa escrita:
          a) “Um ano de 7 a 1 na copa: Parreira temeu que Brasil levasse de 10 a 0 da Alemanha”;
          b) “Saltadora brasileira se choca com comentários em foto de maiô”;
          c) “Ex-médico corintiano revela peso de Ronaldo em 2009.”

No dia seguinte, mais “pérolas”:

          d) “Tanquinho de Cristiano Ronaldo leva japonesas à loucura”;
          e) “Só de biquíni, Xuxa faz movimento de Ioga e ganha elogios: “corpo de garota de 18”;
          f) “Thammy Miranda faz selfie sem camisa e ganha elogio: “maravilhoso”.    
          Inferimos que esse “jornalismo de brincadeira se antepõe ao jornalismo sério do prof. Gruber. Por incrível que pareça, tem público para isso. Onde nós chegamos?! Basta ver a programação da televisão: novelas, programas de auditórios diversos, futebol – um amálgama nocivo. Educação deveria ser tratada como Segurança Nacional porque o maior patrimônio de um país é seu povo. O País está sendo diariamente implodido e estamos atávicos, vivendo e aplaudindo o coroamento da mediocridade.
          O liberalismo político surgiu na França com pensadores como John Locke, Jean Jacques Rosseau, Montesquieu e Adam Smith. Seria a tendência natural do homem em alcançar seus direitos naturais regidos pela política.  Aléxis de Tocqueville (1806-1873) assegurava que dessa forma a democracia seria um fato inevitável. Com o passar do tempo, toda a humanidade levaria a uma busca de igualdade de direitos cada vez maior. Por outro lado, esse desejo poderia levar a sociedade e o Estado a esmagarem o indivíduo. Tocqueville previa, então que nesse cenário as pessoas se afastariam da política para se interessar apenas por seus assuntos pessoais.  Como solução sustentou que a liberdade deve ser estimulada sempre. A ausência de desejar e lutar pela liberdade surtiria uma espécie de anabiose social, forçando todo o mundo a ter a mesma opinião – a Ditadura da Mediocridade.
          No Brasil nem opinião temos. Mas uma voz altiva nos deu exemplo de alerta tocquevilliano: “Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semianalfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso.” General Olympio Mourão Filho (1900-1972)– Memórias: a verdade de um revolucionário. Qualquer semelhança deste desabafo com algum político é coincidência  mesmo. Mourão Filho escreveu esta sentença lapidar nos idos dos anos  1970.
          Indivíduos e mais indivíduos formam a sociedade. Devemos a partir de cada um de nós procurar construir e até reconstruir um mundo melhor, com as nossas ações e tendo acesso e, repassando o que nos edifica.

          O presente já foi construído no passado - não podemos mudá-lo. O futuro, este sim, podemos construí-lo bem, mas se fizermos tudo bom hoje. Então que comecemos agora. Nossos filhos e as futuras gerações nos agradecerão!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

                                       


          17 de julho  - Dia de proteção às florestas

Paulo Ferreira          

“Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para fogueira.” – Leon Tolstoi.


A
s florestas servem para abrigar homens e bichos. Bastam somente esses dois atributos para justificar na insistência de sua preservação. Na Floresta Amazônica, vale frisar que homens supracitado refere-se aos habitantes nativos como o caboclo ribeirinho e índios – estes, dentro da  total visão de humanos iguais a nós caras-pálidas. Outras propriedades, porém, vão além desses itens. Em termos de biodiversidade, os números são estratosféricos: as florestas no processo de evapotranspiração e outros sistemas fisiológicos, e ciclos biogeoquímicos, funcionam como um termostato natural -  um regulador biológico em todo clima do Planeta.  Considere-se também que 30% da superfície do mundo são cobertos por florestas. O processo bioquímico da fotossíntese funciona como uma “fábrica” que usa gás carbono como matéria prima gerando Oxigênio para toda a espécie animal. 40% de todo carbono armazenado nos ecossistemas terrestres se encontram nas florestas. Para entender um pouco, metade de uma árvore é constituída de carbono. Isto já minimiza o potencial poluidor causado pelo efeito estufa.
          Para o índio que teve a floresta como berço, desenvolvimento de toda sua vida e futuro túmulo, esta representa seu mundo. A floresta é seu supermercado, teatro, trabalho, escola, farmácia – seu mundo. Embora a população dos autóctones tenha se reduzido com o passar dos tempos, algumas etnias ainda resistem heroicamente às investidas do capital e a frieza do distanciamento social.     As florestas dentro de uma visão ecológica podem ser fornecedoras de madeira para inúmeros fins: combustíveis, matérias-primas (resinas, celulose, cortiça, frutas, bagas). Uma em cada 10 espécies conhecidas no mundo vive na Amazônia. Cerca de 2,5 milhões de espécies de insetos, dezenas de milhares de espécies de plantas, 2 mil espécies de aves e mamíferos. Estima-se que 1km2 de floresta retenha 90.790 toneladas métricas de plantas, vivas.
          Mesmo com essas qualidades mantenedoras da vida e equilíbrio geral, tem gente do mal que faz queimadas, constroem hidrelétricas, ameaçam a vida dos índios e das populações que dependem da floresta, poluem os rios, exploram desmatando, com atividades de criação de gado vacum e outras práticas ameaçadoras à saúde da floresta e do planeta.
          Destruir a Amazônia é fácil. Até estamos acompanhando de braços cruzados e atônitos esse processo dilapidador. Para esperar seu ressurgimento, pode até ocorrer num lapso de cem anos. Mesmo tendo como parâmetro científico uma floresta exuberante no verdor de seu dossel, se trata de uma questão visual. O solo é certo, relativamente pobre.  A recuperação da floresta nesse caso – uma dúvida.






sexta-feira, 10 de julho de 2015

                           

Pai do cantor Cristiano Araujo: “Será que Deus existe”?

“Deus não é a fonte dos males... Eles existem devido ao pecado voluntário da alma. À qual Deus deu livre escolha.” – Contra fortunatum manichaeum, Acta seu disputatio Cap. 20.


F
ragilizado pela morte prematura do filho, João Reis de Araujo, pai do cantor, perguntou: “Será que Deus existe”? 
          Se até Santo Agostinho também teve esses momentos de conflitos existenciais, abandonando a fé cristã inicial por não compreender como um ser imaterial criador do universo material não pudesse lidar com sua capacidade de operar os  problemas gerados pelo mal e, suas conseqüências. O sofrimento.é um grande delator da fraqueza humana. Somente Jó, em condição de extrema expiação, resistiu a dor sem negar a Deus, mesmo sendo submetido a sete provas profundamente malévolas. No mais, somos seres frágeis e, ainda mais na condição hedonista cultuada pela sociedade, nos tirou parte de nossa resistência à dor.
          Geralmente em acidentes desse tipo, vários fatores combinados podem ter originado a tragédia. Some-se a isso, parodiando Chico Buarque, é como se “não [existisse] pecado do lado de baixo do Equador” –  tudo é permitido. Cumprir leis e normas é pouco frequente. Basta observar como muitas pessoas se comportam ao semáforo: luz verde – passagem livre para os carros. Mas se tiver  uma brechinha, pedestres agem como se verde para os carros fosse o vermelho que permite a passagem daqueles. Não se trata de daltonismo típico – aqui o daltonismo é social. E dessa e outras ações sistematicamente repetidas de forma banalizadas no dia-a-dia, vamos construindo nossa sociedade corrompendo os bons costumes.
          Alguns agravantes saltam aos olhos. Feitas as perícias preliminares, o fabricante do Range Rover afirmou que seu produto não tinha as rodas  originais. As do acidente traziam trincas reparadas com soldas – equipamentos comprometidos. Naquela madrugada de 24 de junho de 2015, o carro parara num posto de combustível. Seguindo viagem madrugada adentro, depois de percorridos 57km ocorreu o capotamento quando estourou um dos pneus do carro.  Esse percurso foi vencido no tempo de 21 minutos no trecho entre Morrinhos e Pontalina na BR-153, em Goiás. Fazendo cálculos da Física, calcula-se uma velocidade media de 162km/h. Pelo Código Brasileiro de Trânsito, a maior velocidade é de 110km/h. As vítimas fatais, no banco traseiro, não usavam cinto de segurança. Ele com 29 anos; ela, com 19 – em plena capacidade produtiva. Vidas ceifadas; castelos de sonhos desmoronados.
          Alta velocidade é coisa para Fórmula 1. Com um detalhe: o circuito é totalmente desimpedido.  Os pilotos foram treinados em categorias menores e estão preparados para o ofício. Todos os carros correm no mesmo sentido. À menor infração, o diretor da prova pode de acordo com o regulamento punir o piloto infrator – é inadmissível  por em risco a própria vida e a dos demais companheiros.
          É de se esperar que o motorista do cantor, Ronaldo Miranda, 40, cônscio de sua responsabilidade e dotado de peculiar profissionalismo seguisse normas básicas de trânsito – não excedendo o limite de velocidade. E ainda mais, quando se dirige à noite quando os cuidados redobram. Aí voltamos às pequenas infrações que cometemos cotidianamente. E Vamos nos acostumando a elas com um certo relaxamento para sua aceitação: “Eu posso andar além da velocidade permitida, não tem guarda, ninguém está vendo mesmo...” . É essa a velha mania de querer levar vantagem em tudo – Lei de Gérson. Resultado: tragédia com morte. O custo porém é dividido com toda sociedade. Isto porque uma sociedade em que todos querem levar vantagem em tudo; todos saem perdendo.
          Furar filas, apresentar declaração falsa para o imposto de renda, não usar luzes de pisca-pisca ao fazer as curvas, fazer ultrapassagem proibida, pode ser o começo de tudo isso. Só não sabemos como tudo irá terminar.



sexta-feira, 3 de julho de 2015

                                              

2)    Malditas vírgulas, benditas vírgulas

Paulo Ferreira

“O sentido de minhas vírgulas não é o de dividir as suas palavras, mas o de pausá-las... para que eu possa sentir e degustar com a justa suavidade o que busca me dizer.” -
Júlio Ramos da Cruz Neto


N
o artigo da semana passada – “Pingos de Filosofia na sua bodas de papel” cometeu um deslize gramatical. Fosse no trânsito, seria uma infração com perda de pontos na carteira. Tecendo um breve comentário a respeito do médico Dr. Jonathan Piaclekos, escrevemos: “Não medindo esforços, o médico de passagem naquele momento, fez todo o procedimento para reanimar a vítima desfalecida no chão.” O correto é: “Não medindo esforços, o médico, de passagem naquele momento, fez todo o procedimento para reanimar a vítima desfalecida no chão:” Publicado, relemos o artigo, quando reparamos no erro cometido. Nosso elogio ficou só na intenção - transformou-se num xingamento. Onde já se viu, médico de passagem?! Passagem denota temporalidade, transitalidade. E no texto, reconheçamos, a falta da vírgula ficou mal. Lidar com a Língua Portuguesa não é fácil. Quer ver, a falta de vírgulas até já condenou generais: Na antiga Grécia, havia os oráculos onde as pitonisas previam o futuro. Conta a lenda que um grande general grego foi até lá e consultou a profetisa, para ver se iria ter sucesso ou não na guerra que ora começava. Ela consultou o oráculo e deu a seguinte resposta: “Irás voltarás não morrerás.” O resultado foi contraproducente – o militar morreu. E a profecia, como ficou? Faltou vírgula. Correto seria se fosse escrito assim: “Irás. Voltarás? Não, morrerás.”
          Mas quem essa vírgula pensa que é? Ela não tem o poder de finalizar uma frase ou oração como o ponto. Uma frase sem um ponto final fica com o sentido inalterado. O mesmo não podemos dizer dessa tal vírgula. Dando um zum no ponto, geometricamente falando, este tem uma forma definida – é um círculo. Podemos até calcular diretamente sua área. A vírgula é um polígono irregular – um círculo com um rabisco pendurado, ou seja, não tem nem definição – é como se fosse feita às pressas – um rascunho, uma coisa inacabada. Ela não tem forma definida nem a elegância de outros sinais gráficos. Mas que atrapalha, sim. E muito.
“Observação Sobre a vírgula* :
Vírgula pode ser uma pausa… ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula também muda tudo.

Um exemplo adicional:
Se o homem soubesse o valor que TEM a MULHER andaria de quatro à sua procura.
Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.
Estamos assumindo mea culpa. Dr. Jonathan por sua vez, até poderia mover um processo contra Pingos de Filosofia por injúria, danos morais ou uma outra sanção qualquer nos códigos do Direito Romano. No mínimo, o direito de resposta. Mas conhecendo sua conduta ilibada e sendo meu amigo, sei que ele irá tirar de sua sacola de bondade o perdão que nos cabe. Ele sabe bem disso. Devo-lhe minha vida.
          É serio, mas a Gramática tem dessas coisas.   Se nas esquinas cada perigo nos espreita, nas linhas que escrevemos também.

 *Nota: Fizemos um enxerto: começa em “Observação sobre a vírgula” e finaliza em: Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.”  Ou melhor, é tudo que está escrito na cor azul - Foi transcrito do Blog do Gilberto Cabegg – Escritor e assessor Editorial – Ghost Writer