15 de março – Impeachment para Dilma Rousseff - onde estão os caras-pintadas?
Paulo
Ferreira
“Não é porque certas coisas são difíceis
que nós não ousamos; é justamente porque não ousamos que tais coisas são
difíceis” - Sêneca
T
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ivemos
um presidente que sofreu Impeachment e perdeu o cargo em 1992. Muita gente foi
às ruas para defender a melhoria do país. A “briosa” classe política deu seu
exemplo de “austeridade” no julgamento do Collor.
O Brasil está muito bem. Mas o Brasil
dos discursos dos que detém o poder. O
teor das palavras da presidente no último domingo (8/3/2015) em cadeia nacional
atesta os fatos. Falou que não há clima para impeachment. Se o que ela afirma
for verdade, então só nos resta mesmo abandonar o barco, senão vejamos: o impeachment de Collor foi motivado por
uma rusga familiar. Seu irmão Pedro fez graves denúncias à revista Veja.
Jogaram fermento nas denúncias e, resultou num vórtice político-social. Na seqüência,
veio a perda do mandato. Foi muito
barulho por pouco. Não houve sequer um fato concreto que motivasse o
afastamento do presidente. Collor perdeu o mandato num instituto juridicamente
questionável – denuncismo. Não houve sequer um fato consistente, uma prova
factível pelo que ele fora acusado. Somente um automóvel Fiat Elba que recebeu
de presente do Paulo César Farias, o PC. Este foi o crime cometido pelo
ex-presidente. Vale reprisar para os esquecidos e os mais jovens que atiram
pedras em Collor, que o tribunal que o julgou, os “juízes” (políticos) com
raríssimas exceções, não tinha o devido lastro moral nem para julgar uma raposa
que assalta galinheiros. Dentre os deputados federais e senadores que se
investiram do mais “honrado patriotismo”, muitos vieram a ser mais tarde revelados
como grandes corruptos, entre eles o grupo denominado “anões do orçamento”. Os
grupos que se locupletavam politicamente com dinheiro público, se viram em
dificuldades para continuar suas benesses. Resolveram dar o troco – Insuflar a
população ao impeachment. Isto porque Collor não roubou nem deixou roubar.
Custou-lhe caro a ousadia. Ser honesto incomoda. Leve-se em conta também que o
então presidente da Câmara dos Deputados – Ibsen Pinheiro, por não gostar de
Collor deu cada vez mais celeridade ao processo de Impeachment. O que os políticos queriam àquela época era
transformar um engodo político num espetáculo midiático. E conseguiram. Agiram inteligentemente
por trás dos bastidores.
A população e os caras-pintadas foram às
ruas como massa de manobra sob a égide de um grande processo de controle social
e mental.
Passados esses 23 anos, hoje a
conjuntura é outra. Se naquela época faltavam provas, hoje provas é o que não
faltam. Quase toda semana surge um novo escândalo. Este último da Petrobras já
ocorre há um bom tempo. Escândalo no Brasil tem alto status. Não se trata de
mil reais, dois mil, 10 mil. E quando o assunto é Petrobras, se fala em cifras
maiores, na casa dos bilhões. É o que
está ocorrendo agora: ainda sem a devida apuração conclusiva, pelo menos
passaram pelo propinoduto cerca de R$ 23,7 bilhões ente 2011 a 2014 para pessoas
físicas (4.322 supostamente corruptas) e pessoas jurídicas (4.298
empresas). Há uma miopia generalizada. O
dinheiro desviado migra para as contas bancárias, muitas vezes em paraísos fiscais
e ninguém desconfia, nem sabe, nem se vê. Para que serve a contabilidade, ela
não existe nessas empresas? Roubar no Brasil é fácil. Se for ladrão poderoso,
engravatado e com um certo verniz social, vai bem. Muitas vezes passa
despercebido. Descoberto, é crime quase impune. Monta-se um circo com
fotografias do “acusado” (não pode algemá-lo para não constrangê-lo). Depois
ele na continuação do espetáculo, vai preso. Mas o que menos interessa para nós
é essa prisão. Prisão é mais um ônus para a população e, faz parte de um
sistema falido. Por que não copiamos os índios que não sustentam um modelo
prisional? Essa conta de todo prejuízo da estatal tem endereço certo: mais
impostos para todos nós contribuintes. Para se aplicar justiça, pelo menos se
deveria fazer um arresto dos bens ilegalmente adquiridos, inclusive
investigando-se também a origem da fortuna de todos os familiares que
enriqueceram de forma duvidosa e, fazer como se faz no Japão – exclusão da
sociedade. Este último fato é explicado por Maslow – psicólogo norteamericano (ver
Pirâmide de Maslow) que argumentava que depois das necessidades básicas e da
segurança, ser aceito pelo grupo é o que o ser humano mais deseja.
Mais do que nunca, precisamos acabar
com essa orgia com o dinheiro público. Se nada fizermos agora, quando iremos
fazê-lo? Vamos esperar mais o quê?
Em 15 de março vamos às ruas mostrar
o que podemos fazer. Se o povo tivesse a consciência do poder que tem, que país
teríamos, que povo seríamos?!
Parodiando Collor e revivendo Platão:
“Minha gente”, vamos sair da caverna. Lá fora, além das sombras que vemos
projetadas na parede, existe uma outra realidade, um outro mundo que podemos
fazê-lo ainda melhor.
Nota: Sei que alguns leitores irão “estranhar a absolvição” de
Collor neste blog. Mas partimos do principio do jornalista Armando Nogueira que
ao fazermos jornalismo, devemos “elogiar sem bajular e criticar sem ofender”.
Collor foi acusado em 102 processos e absolvido em todos eles. Se a justiça
errou, também erramos.