sexta-feira, 13 de março de 2015





15 de março – Impeachment para Dilma Rousseff - onde estão os caras-pintadas?

Paulo Ferreira

“Não é porque certas coisas são difíceis que nós não ousamos; é justamente porque não ousamos que tais coisas são difíceis” - Sêneca


T
ivemos um presidente que sofreu Impeachment e perdeu o cargo em 1992. Muita gente foi às ruas para defender a melhoria do país. A “briosa” classe política deu seu exemplo de “austeridade” no julgamento do Collor.      
          O Brasil está muito bem. Mas o Brasil dos discursos dos que detém o poder.  O teor das palavras da presidente no último domingo (8/3/2015) em cadeia nacional atesta os fatos. Falou que não há clima para impeachment. Se o que ela afirma for verdade, então só nos resta mesmo abandonar o barco, senão vejamos: o impeachment de Collor foi motivado por uma rusga familiar. Seu irmão Pedro fez graves denúncias à revista Veja. Jogaram fermento nas denúncias e, resultou num vórtice político-social. Na seqüência, veio a perda do mandato.  Foi muito barulho por pouco. Não houve sequer um fato concreto que motivasse o afastamento do presidente. Collor perdeu o mandato num instituto juridicamente questionável – denuncismo. Não houve sequer um fato consistente, uma prova factível pelo que ele fora acusado. Somente um automóvel Fiat Elba que recebeu de presente do Paulo César Farias, o PC. Este foi o crime cometido pelo ex-presidente. Vale reprisar para os esquecidos e os mais jovens que atiram pedras em Collor, que o tribunal que o julgou, os “juízes” (políticos) com raríssimas exceções, não tinha o devido lastro moral nem para julgar uma raposa que assalta galinheiros. Dentre os deputados federais e senadores que se investiram do mais “honrado patriotismo”, muitos vieram a ser mais tarde revelados como grandes corruptos, entre eles o grupo denominado “anões do orçamento”. Os grupos que se locupletavam politicamente com dinheiro público, se viram em dificuldades para continuar suas benesses. Resolveram dar o troco – Insuflar a população ao impeachment. Isto porque Collor não roubou nem deixou roubar. Custou-lhe caro a ousadia. Ser honesto incomoda. Leve-se em conta também que o então presidente da Câmara dos Deputados – Ibsen Pinheiro, por não gostar de Collor deu cada vez mais celeridade ao processo de Impeachment. O que os políticos queriam àquela época era transformar um engodo político num espetáculo midiático. E conseguiram. Agiram inteligentemente por trás dos bastidores.
        A população e os caras-pintadas foram às ruas como massa de manobra sob a égide de um grande processo de controle social e mental.
          Passados esses 23 anos, hoje a conjuntura é outra. Se naquela época faltavam provas, hoje provas é o que não faltam. Quase toda semana surge um novo escândalo. Este último da Petrobras já ocorre há um bom tempo. Escândalo no Brasil tem alto status. Não se trata de mil reais, dois mil, 10 mil. E quando o assunto é Petrobras, se fala em cifras maiores, na casa dos bilhões.  É o que está ocorrendo agora: ainda sem a devida apuração conclusiva, pelo menos passaram pelo propinoduto cerca de R$ 23,7 bilhões ente 2011 a 2014 para pessoas físicas (4.322 supostamente corruptas) e pessoas jurídicas (4.298 empresas).  Há uma miopia generalizada. O dinheiro desviado migra para as contas bancárias, muitas vezes em paraísos fiscais e ninguém desconfia, nem sabe, nem se vê. Para que serve a contabilidade, ela não existe nessas empresas? Roubar no Brasil é fácil. Se for ladrão poderoso, engravatado e com um certo verniz social, vai bem. Muitas vezes passa despercebido. Descoberto, é crime quase impune. Monta-se um circo com fotografias do “acusado” (não pode algemá-lo para não constrangê-lo). Depois ele na continuação do espetáculo, vai preso. Mas o que menos interessa para nós é essa prisão. Prisão é mais um ônus para a população e, faz parte de um sistema falido. Por que não copiamos os índios que não sustentam um modelo prisional? Essa conta de todo prejuízo da estatal tem endereço certo: mais impostos para todos nós contribuintes. Para se aplicar justiça, pelo menos se deveria fazer um arresto dos bens ilegalmente adquiridos, inclusive investigando-se também a origem da fortuna de todos os familiares que enriqueceram de forma duvidosa e, fazer como se faz no Japão – exclusão da sociedade. Este último fato é explicado por Maslow – psicólogo norteamericano (ver Pirâmide de Maslow) que argumentava que depois das necessidades básicas e da segurança, ser aceito pelo grupo é o que o ser humano mais deseja. 
          Mais do que nunca, precisamos acabar com essa orgia com o dinheiro público. Se nada fizermos agora, quando iremos fazê-lo? Vamos esperar mais o quê?
          Em 15 de março vamos às ruas mostrar o que podemos fazer. Se o povo tivesse a consciência do poder que tem, que país teríamos, que povo seríamos?!
          Parodiando Collor e revivendo Platão: “Minha gente”, vamos sair da caverna. Lá fora, além das sombras que vemos projetadas na parede, existe uma outra realidade, um outro mundo que podemos fazê-lo ainda melhor.

Nota: Sei que alguns leitores irão “estranhar a absolvição” de Collor neste blog. Mas partimos do principio do jornalista Armando Nogueira que ao fazermos jornalismo, devemos “elogiar sem bajular e criticar sem ofender”. Collor foi acusado em 102 processos e absolvido em todos eles. Se a justiça errou, também erramos.