sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Tempo e calendário

Paulo Ferreira

“Eu consigo calcular o movimento dos corpos celestiais, mas não a loucura das pessoas” – Isaac Newton

N
ão se sabe ao certo, mas o homem lá nos primórdios via que os sucessivos aparecimentos do Sol e da Lua ocorriam em determinados intervalos. Que ele como ser vivo estava submetido a um ciclo natural a ser cumprido: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Esse mesmo destino também para outras espécies de seres vivos, além das plantas. Mas que intervalos seriam esses? Sentiu a partir daí a necessidade de medir o tempo. Mas como? Com os estudos dos movimentos dos astros celestes (Sol e Lua) e com o aprofundamento da Astronomia mais tarde, deram as bases para o atingimento desse objetivo. Como consequência tivemos nesses estudos o fracionamento do tempo em ano, mês, semana e dia. Em função do Sol, o dia é unidade fundamental de todo calendário. A semana tem origem astrológica: cada um dos sete dias era dedicado a um deus, associado a vários astros no céu. Também se considerou a soma do numero divino (3) e o número terreno (4). O mês resultou da periodicidade das fases lunares. O ano foi estabelecido tendo a agricultura como referência. Também começou a observar que o dia ainda podia ser fracionado. Chegou então a criar o sistema duodecimal – tomando como base o número 12. Isto porque esse número era dos prediletos do homem primitivo. O 12 resultava de um produto do número divino (3) e do número terreno (4). Esse sistema inspirou a chamada dúzia. Também doze eram geralmente as famílias de uma tribo na antiguidade e os signos do Zodíaco. 12 horas eram dia e as outras 12, noite. A cada uma dessas partes chamou-se hora. Minutos e segundos como consequência, vieram logo depois.
          Tomando como base de estudos da Astronomia, calculou-se uma defasagem de 30 minutos a cada mil anos. Um cientista de nome Norman Ramsey criou nos anos 50 um processo para redefinir o segundo como sendo o tempo de vibração do átomo de césio e não mais a sexagésima parte do minuto. Com isto se reduziu a margem de erro de um segundo a cada mil anos.
          Enfim, o homem dessa maneira “domou” o tempo.
          Mas o que vem a ser o tempo para nosso entendimento? Existe tempo para os animais? Para os seres humanos, sim. O que é diferente dos animais que não têm linguagem. Como os animais não tem a consciência cognitiva, eles não desenvolveram a  memória. Eles vivem o instante de agora. Passado e presente ficam fora de sua percepção.
         Nessa questão, Heidegger em sua obra-mestra Ser e Tempo afirmava que a percepção humana procedia de uma análise do próprio homem consciente de ser parte do universo. Ele usou o termo alemão Dasein para designar o “ser aí”, “estar aí” com a finalidade de libertar-se dos pressupostos metafísicos contidos nessa condição de animal racional. A essência do Dasein é a própria consciência como ser vivente e pensante – não é ser no mundo, mas ser ao mundo no sentido ontológico.

         E dessa forma, Ciência e Metafísica nos situaram no tempo.