sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Semana de 4 a 11 de setembro de 2015

Foto: fm95.com.br

7 de setembro de 1922 - 1ª Transmissão do Rádio no Brasil
Paulo Ferreira

“Rádio – primeiro companheiro noticioso do homem” – Jornalista Profª Drª Sônia Inês Vendrame.

A
 primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1922. Era a Exposição Internacional do Centenário da Independência. Entre tantas autoridades que se fizeram presentes, o Presidente da República Epitácio Pessoa. A voz do presidente e a música clássica “O Guarani” de Carlos Gomes eram precariamente ouvidas pelos visitantes por alto-falantes de pouca potência. Para um público distante, foram distribuídos estrategicamente 80 rádios na capital e nas cidades de Niterói e Petrópolis. Para a transmissão foi montada uma estação de 500watts com transmissores Westinghouse instalados no alto do morro do corcovado – Rio de janeiro. Após as festividades, no entanto, as transmissões experimentais foram interrompidas.
          A novidade foi bem aceita. O rádio podia atingir os mais distantes rincões. Somente um ano depois é que a estruturas das rádios foram se sedimentando. Nesse 1923, o antropólogo e educador Edgar Roquete Pinto (1884-1954) considerado “o pai da radiodifusão brasileira” e Henrique Morize criaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com programas educativos, culturais e humorísticos. Ficou conhecida a dupla Manezinho e Quintaniha. Segundo Sônia Virgínia Moreira, professora de Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): “As rádios ficavam poucas horas no ar porque os transmissores não tinham capacidade de operar durante muito tempo. Era Experimental em termos de programação, sobre o que se podia fazer na Rádio, mas muito interessante em termos de organização do meio. Como não havia nenhuma história, nenhuma memória do meio, o que se fez num primeiro momento foi organizar as pessoas ou as pessoas se organizarem”.
          Ainda nessa fase, as Rádios não tinham uma razão social definida – não eram nem pública nem comercial. “As emissoras se organizavam para as suas transmissões experimentais em torno das chamadas Rádio-Clube. Por isso, até hoje muitas emissoras criadas nessa época, em todo o país, tem a denominação de Rádio-Clube, porque se constituíam, na verdade, em clubes de ouvintes”. Com o passar do tempo, ocorreram algumas mudanças: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi doada pelo próprio Roquette Pinto ao Ministério da Educação em 1936 e, hoje existe com outro nome: é a atual Rádio MEC. A versatilidade desse veículo também permitiu que ele fosse usado durante a Revolução Constitucionalista Paulista. Nos anos 1930, grandes emissoras surgiram para multiplicar mensagens e programas. Mais tarde, em 1950 foi criado o prêmio Roquette Pinto para laurear os destaques do Rádio de São Paulo. Somente passou a entrega dos troféus em 1952 e, se estendeu até 1982.
         Rádios como todo empreendimento gera custos. As contribuições de seus próprios ouvintes e os que também faziam a programação não eram suficientes para cobrir as despesas.  Sensível ao problema, o presidente Getúlio Vargas determina com o Decreto nº 21.111, de 1º de março de 1932, o direito de às emissoras ter até 10% da programação sob a forma de publicidade. Surgia assim a era do Rádio Comercial. Os primeiros anúncios publicitários foram veiculados na voz de Waldo de Abreu no “Esplêndido Programa” da Rádio Clube do Brasil, também no Rio de Janeiro.
          Em 1934, a Rádio Mayrink Veiga era líder de audiência no Rio de Janeiro.
          Surgida em 1936, a Rádio Nacional foi a grande emissora brasileira. O cronista Rubem Braga exclamou:”O povo brasileiro fala a linguagem da Rádio Nacional”. Tinha na programação músicas, notícias e novelas. Várias novelas foram ao ar nessa emissora. A primeira delas, “Em busca da Felicidade” e a que alcançou maior sucesso – “O Direito de Nascer”. Os primeiros radiodramas eram importadas de Cuba. Também pela Rádio Nacional, o primeiro radiojornal brasileiro, o “Repórter Esso” na voz de Heron Domingues. O governo para não ficar de fora da programação criou em 1934, a Voz do Brasil que ia ao ar às 19h - é o programa de rádio mais longevo no país. Está ainda hoje em execução.
          Com o passar do tempo, outra mudança parecida com o mesmo destino da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A Rádio Nacional foi incorporada ao patrimônio da União na década de 1940. “Naquele momento, marcado pela Segunda Guerra Mundial, os norte-americanos passaram a influenciar não só a programação como o próprio modelo de rádio feito no Brasil, eminentemente comercial, a exemplo do que se fazia nos Estados Unido” completa a  profª Virgínia.
          Apareceram os chamados programas de montagem. O primeiro foi “Curiosidades Musicais” estreando em 11 de abril de 1938 comandado pelo radialista e compositor Almirante (1908-1980) – “a mais alta patente do rádio”. Os anos 1940-1950 testemunharam os famosos programas de auditório. Grandes ídolos como Orlando Silva “o cantor das multidões”, este, patrocinado pelo laboratório Urodonal-Fandori. Também fizeram muito sucesso: Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Vicente Celestino, Augusto Calheiros, Silvio Caldas entre tantos. Cantoras: Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Carmen Miranda, Marlene, Emilinha Borba, Nora Ney, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Carmélia Alves, Inezita Barroso e outras.
          Assis Chateaubriand, primeiro magnata das comunicações criou um conglomerado – Diários Associados. Somente de rádio tinha 36. Com sua morte em 1968, seu império começou a ruir até desaparecer melancolicamente por completo em 1980.
        E o rádio que outrora teve lugar de destaque nas salas das casas, “entronizado” e aguardando seus leais “súditos”, muitas vezes, durante o dia, fora do uso coberto com uma toalha rendada para protegê-lo da poeira, deixou as salas vazias e cheias de saudade. Ele agora se tornou onipresente nos carros, casas, celulares, e nos mais diversos lugares.
          Com o advento da televisão ele perdeu um pouco de sua força. Mas o rádio não morrerá jamais.