“É
somente uma partida de futebol”
Paulo Ferreira
“Na Europa o futebol é entretenimento
entre classes. No Brasil é analgésico do povo” - Thomé
Quarta-feira
passada (17/06/2015), pela Copa América, Brasil perdeu para a Colômbia por 1 X 0.
O futebol jogado pelo escrete canarinho foi fraco. O minguado placar correspondeu também ao
minguado futebol da Seleção Brasileira.
Mudou. Muita coisa mudou no futebol. Antes tinha Pelé e o restante da
Seleção era de jogadores também de boa qualidade técnica. Naqueles tempos, a
Seleção não dependia exclusivamente de Pelé – tinha conjunto. Hoje, temos uma
Seleção que depende basicamente de Neymar. Quando este jogador não é escalado,
desaba toda a esperança de uma vitória.
Tostão, ex-jogador da Seleção e tri em 1970, hoje comentarista, já teceu pertinentes
opiniões sobre jogadores comuns e, que são “classificados como craques”, mesmo
mostrando um futebol pequeno. A atual Seleção Brasileira de Futebol, sejamos
justos, de craque mesmo somente Neymar – isso todo mundo vê. Ao final do jogo, Galvão
Bueno, que antes sempre elogiava o atleta, num tom de desencantamento, falou
porque inclusive que o jogador foi violento: “O Neymar não está em seu
equilíbrio normal. Ele entrou no meio dessa confusão aí... Não é isso que nós
queremos ver. Para que essa cabeçada? Feio isso, não precisava disso. A imagem
que passa é que ele foi pedir desculpas, mas, de qualquer maneira, não se pode
fazer isso”.
O efeito Seleção “imbatível” pode ser comparado ao que aconteceu quando
Rubens Barrichello foi para a Ferrari em 2000. Falava-se e prometia-se vitórias
“no atacado”. “Finalmente um brasileiro iria correr com os carrinhos vermelhos
da mais tradicional equipe de Fórmula 1 desde sua primeira edição em 1950. Mas
vitórias de Barrichello vieram “no varejo” -
somente esparsas nove vitórias até sair da escuderie em 2005. Era
difícil. Muito difícil. Na Ferrari estava nada mais nada menos que Michael
Schumacher – que seria pouco tempo depois - lenda da Fórmula 1. A posição de Barrichello
era de segundo piloto – escudeiro. O fato é tão notável que no Grande Prêmio da
Áustria de 2002, a
poucos metros da bandeirada, o piloto brasileiro cedeu a vitória a Schumacher.
Com isso, tivemos descortinada a realidade que se passava nos boxes e, revelando
que a posição do piloto em igual tratamento igual ao de Schumacher era um
embuste.
No futebol, Neymar é Schumacher e os demais são os Barrichello. A Seleção
Brasileira de Futebol não é em nada superior às outras. De enganação em
enganação, a história se repete – só não ver quem não quer – Mesmo que queiram
mostrar uma seleção vitoriosa. Para quem já jogou [e bem] na seleção e entende
de futebol, Ronaldinho Gaúcho disse que não vê os jogos da seleção porque “não
tem paciência de ver os 90 minutos da partida” dos comandados do técnico Dunga.
Fechando a transmissão do jogo,
Galvão Bueno exclamou. “É somente uma partida de futebol”.
E se foi somente uma partida de futebol, por que ficar o tempo todo como
mercador de ilusões, passando uma realidade que não existe para os
telespectadores? É muita alienação – como consta nos próprios programas da Rede
Globo quando está lá escrito: “Obra de ficção e sem compromisso com a
realidade”. Como então pode-se construir
um país embasado na Educação se emissoras de televisão – uma concessão pública
se assume como “sem compromisso com a realidade”?