sexta-feira, 19 de junho de 2015

“É somente uma partida de futebol”

Paulo Ferreira                 

“Na Europa o futebol é entretenimento entre classes. No Brasil é analgésico do povo” - Thomé

Quarta-feira passada (17/06/2015), pela Copa América, Brasil perdeu para a Colômbia por 1 X 0. O futebol jogado pelo escrete canarinho foi fraco.  O minguado placar correspondeu também ao minguado futebol da Seleção Brasileira.
         Mudou. Muita coisa mudou no futebol. Antes tinha Pelé e o restante da Seleção era de jogadores também de boa qualidade técnica. Naqueles tempos, a Seleção não dependia exclusivamente de Pelé – tinha conjunto. Hoje, temos uma Seleção que depende basicamente de Neymar. Quando este jogador não é escalado, desaba toda a esperança de uma vitória. Tostão, ex-jogador da Seleção e tri em 1970, hoje comentarista, já teceu pertinentes opiniões sobre jogadores comuns e, que são “classificados como craques”, mesmo mostrando um futebol pequeno. A atual Seleção Brasileira de Futebol, sejamos justos, de craque mesmo somente Neymar – isso todo mundo vê. Ao final do jogo, Galvão Bueno, que antes sempre elogiava o atleta, num tom de desencantamento, falou porque inclusive que o jogador foi violento: O Neymar não está em seu equilíbrio normal. Ele entrou no meio dessa confusão aí... Não é isso que nós queremos ver. Para que essa cabeçada? Feio isso, não precisava disso. A imagem que passa é que ele foi pedir desculpas, mas, de qualquer maneira, não se pode fazer isso”.
          O efeito Seleção “imbatível” pode ser comparado ao que aconteceu quando Rubens Barrichello foi para a Ferrari em 2000. Falava-se e prometia-se vitórias “no atacado”. “Finalmente um brasileiro iria correr com os carrinhos vermelhos da mais tradicional equipe de Fórmula 1 desde sua primeira edição em 1950. Mas vitórias de Barrichello vieram “no varejo” -  somente esparsas nove vitórias até sair da escuderie em 2005. Era difícil. Muito difícil. Na Ferrari estava nada mais nada menos que Michael Schumacher – que seria pouco tempo depois - lenda da Fórmula 1. A posição de Barrichello era de segundo piloto – escudeiro. O fato é tão notável que no Grande Prêmio da Áustria de 2002, a poucos metros da bandeirada, o piloto brasileiro cedeu a vitória a Schumacher. Com isso, tivemos descortinada a realidade que se passava nos boxes e, revelando que a posição do piloto em igual tratamento igual ao de Schumacher era um embuste.
          No futebol, Neymar é Schumacher e os demais são os Barrichello. A Seleção Brasileira de Futebol não é em nada superior às outras. De enganação em enganação, a história se repete – só não ver quem não quer – Mesmo que queiram mostrar uma seleção vitoriosa. Para quem já jogou [e bem] na seleção e entende de futebol, Ronaldinho Gaúcho disse que não vê os jogos da seleção porque “não tem paciência de ver os 90 minutos da partida” dos comandados do técnico Dunga.
           Fechando a transmissão do jogo, Galvão Bueno exclamou. “É somente uma partida de futebol”.

          E se foi somente uma partida de futebol, por que ficar o tempo todo como mercador de ilusões, passando uma realidade que não existe para os telespectadores? É muita alienação – como consta nos próprios programas da Rede Globo quando está lá escrito: “Obra de ficção e sem compromisso com a realidade”. Como então pode-se construir um país embasado na Educação se emissoras de televisão – uma concessão pública se assume como “sem compromisso com a realidade”?