segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015





Polonesa nua
Brasileiras de top less
Nudez vista sob determinados pontos de vista

Paulo Ferreira

“Tantas são as sociedades que discutem, satanizam, combatem, proíbem, punem, mas consomem amplamente a nudez” – Carmita H.N. Abdo.



N
a Polônia, uma moça entrou numa lanchonete para pegar uma bebida e um lanche. Ficou na fila para pagar as compras e saiu do jeito que entrou: NUA. Não foi importunada com olhares, impropérios ou qualquer outra forma de desrespeito e seguiu adiante seu caminho.
          No Brasil, semana passada, um grupo de mulheres resolveram protestar contra o machismo tirando praticando o top less – seios descobertos. Essa prática é bastante conhecida nas praias da Europa. No Brasil, a prática de tomar banho sem roupa ocorre nas praias exclusivas de naturismo. O termo nudismo deve ser evitado porque se trata de uma filosofia de vida. Não é simplesmente tirar a roupa.
           O que é nudez e porque ela provoca tanta celeuma? Nascemos nus. Não nos vestimos, vestem-nos. A Bíblia cita Adão e Eva bastante à vontade no paraíso vivendo num mundo só deles. Depois do pecado por comer o fruto da árvore proibida é que o primeiro casal viu-se nu e, procuraram se esconder de Deus. Era a ligação do sentimento de vergonha ao comer o que era proibido - o nu.
          Andar nu em 5000 a.C. era coisa comum, principalmente para os gregos. As primeiras olimpíadas eram praticadas com atletas sem roupa. A palavra Ginásio significa local de nudez. Até as batalhas eram também sem roupa.  Os mestres da pintura, Goya e Gauguin enriqueceram suas Artes com o corpo feminino. O discóbolo de Miron, Sátiro dormindo, Vênus de Milo são trabalhos de esculturas onde o nu era artística e culturalmente aceito - tudo tão lindo, tudo natural. Nas cidades antigas, os banhos eram coletivos em praças públicas. No Cairo na era Otomana, havia muitos banhos turcos. Certa vez, houve um incêndio de grandes proporções, e somente se salvaram as pessoas que correram nuas. Quem procurou se vestir morreu. À época do Império Romano, a nudez nos banhos públicos era costumeiramente normal. O que poderia ter modificado estruturalmente esse conceito para que hoje o corpo tivesse essa conotação do proibido?  Até o século VIII, o batismo cristão também era uma cerimônia onde o batizado, nu era realizado, para purificar a alma. Segundo a Drª. Carmita H.N. Abdo, o fim dessa prática pela igreja católica contribuiu para que a nudez carregasse até hoje o peso do preconceito. A Era Vitoriana no Século XIX foi um período da História onde mais o nu foi moralmente atacado. 
          A nudez já serviu para absolver uma ré – Na Grécia antiga, Frineia, uma das mais famosas cortesãs, de tão prestigiada, foi até retratada pelo mais importante pintor da cultura helênica – Apeles. Conta-se que Frineia, foi levada a um tribunal por causa de uma calúnia. Vendo que seu advogado havia esgotado todo seu repertório de defesa e, por isso, sua condenação iminente estava mais que certa,
tirou a roupa diante dos juízes e estes, associando que a beleza era um atributo divino, resolveram absolvê-la.
          No Brasil, tivemos a bailarina, naturista e primeira feminista Luz del Fuego que fundou o Clube Naturalista Brasileiro – na praia Ilha do Sol.
Também freqüentou Abricó, hoje reduto de naturismo.
         Na medicina a Helioterapia – tratamento de enfermidades através da luz do sol já foi amplamente usado – com pouca ou nenhuma roupa.
          A nudez em determinados conceitos: no ocidente, é a ausência de roupas ou uma outra qualquer indumentária. O nu no ocidente representa diretamente a exposição dos órgãos sexuais. Para os ortodoxos, são braços, colo e pernas. Muçulmanos consideram a cabeça feminina descoberta uma nudez. Para certos nativos, a nudez representa a ausência de alguns adornos no pescoço e orelhas.
          Para outros, o corpo nu pode muito bem ser comparado como um espelho que reflete a própria  imagem no outro. O outro tem parte de mim; eu, por minha vez, sou parte do outro – somos da mesma espécie. Mas o nu pode causar aceitação, indiferença e rejeição. Não é obrigado a ninguém ver o que acha que não deve ver; como também não se deve ser obrigado a se mostrar se assim não o desejar.
          De qualquer forma, somos a única espécie que cria linguagem e daí conceitos e preconceitos. A nudez é democrática porque torna todos iguais. A roupa além da proteção do frio, também serve para nos identificar – estratificação social. Somente nós nos vestimos. Animais e natureza estão aí nus diante de nós. A forma de ver animais e natureza depende de cada um. Não sabemos como o leitor interpretou os nus que ilustram este artigo.
          “A pessoa só enxerga o que está preparada para ver” – Ralph Waldo Emerson (poeta e ensaísta norteamericano).
 

Nota: Não é nossa pretensão fazermos apologia da nudez. O artigo é meramente informativo.