sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


Estadão - conteúdo
2) Violência: homem enjaulado e cristãos decapitados

Paulo Ferreira

“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todos os lugares” - Martin Luther King.


A
 televisão semana passada mostrou uma cena que poderia ser de um zoológico, porque tinha uma jaula. Mas tinha um homem dentro dela. Não é mais um Zoológico. O prisioneiro da Jordânia, não tinha como escapar da robusta prisão. Foi anunciado que a vítima seria incendiada ainda com vida. As imagens do fogo não foram mostradas na televisão brasileira. Somente em jornais impressos. Foi uma morte mostrada como um show pirotécnico. A pirotecnia foi inventada na China para, por meio de fogos, entreter os imperadores. Hoje, o fogo que ajudou a construir a civilização cozinhado os alimentos e fundindo metais, é usado para destruir seres humanos. Os autores do vídeo fazem questão de gravar as imagens “para a posteridade”. Fazem “justiça” à sua maneira. As imagens são distribuídas aos canais de televisão para servirem de exemplo. É a “Sociedade do espetáculo”descrita, por Guy Debord em sua obra clássica. No dia seguinte e os próximos também, a vida para todos se comportou seguindo sua trajetória normal.  A natureza no seu eterno devir e, cada um seguindo seus passos friamente como se o fato não tivesse acontecido. Mas aconteceu, aconteceu com o outro. Não foi comigo nem com ninguém de minha família. Esta é a linha de raciocínio de muitos – é um torpor geral. Também estão decapitando os cristãos. Voltamos à barbárie. Só que com uma diferença. Naquele tempo os humanos matavam os grupos hostis. Tinha competição e os mais fortes dominavam os mais fracos. O destino destes estava nas mãos daqueles que detinham o poder. Os antigos eram insensíveis porque tinham de sair para caçar, passar horas a fio longe da convivência familiar, arriscando a vida, esperando a presa para trazer proteína para si e para o grupo. Precisavam se apossar de pertences e de terras. Essa insensibilidade era uma espécie de couraça na pele para proteção das intempéries e, até enfrentar no braço e com armas rudimentares, animais ferozes. Os 86 bilhões de neurônios trabalhavam apenas para a sobrevivência.
          Hoje que não existe competição por alimentos. A vida de um não depende mais da morte do outro. Estamos repetindo a violência como se o tempo passasse sem nenhuma reflexão e transformação. Tivemos pacifistas como Ghandi, Martim Luther King, D. Hélder Câmara e o maior deles – Jesus Cristo. Para os violentos, essa lição ainda não foi aprendida.
          Era de se esperar que diante desses fatos, o mundo inteiro parasse e, se posicionasse contra esse tipo de violência. Até parece que de tanto convivermos com ela, internalizamo-la e, daí, também nos tornamos insensíveis. Atualmente se faz passeatas e outros tipos de manifestações para quase tudo: aumento do custo de vida, geração de emprego, até impeachment de presidente da república. Como um de nós se sentiria por trás daquelas grades, sabendo da iminência da morte?
Leitor atento imagine alguém lhe encharcando de gasolina para depois lhe atear fogo. Ou então lhe cortando o pescoço como fazem com os critãos.
          Com cada um somente pensando em si, desta vez enclausurado mas nos seus aposentos, este fato de forma indireta alimenta mais ainda a violência.
Vivemos num mundo que a proteção física é apenas para quem tem posses e para próprio capital. Perceberam o aparato de carros-fortes e da guarda treinada para esse fim? Pela leitura de mundo, dinheiro é número. Ser humano que deveria ser nome é somente número. Mas diferente da conotação de dinheiro. Dinheiro era para ser somente dinheiro. Capital era para sermos todos nós, até por uma questão etimológica que a palavra é de origem latina – caput, capitis – essencial, primordial o cabeça, o centro, o que governa.
          O Brasil poderia dar um bom exemplo. Um país que tem Ibama e outros institutos de preservação da vida, com leis ambientais que protegem flora e fauna, não mexeu sequer um músculo para defender esses humanos. Se árvores, pássaros, cobras e lagartos estão sob a égide da justiça, por que não nos insurgimos contra a matança humana?  E o resto do mundo, por que também não fez nada?  Quando cruzamos os braços, é como se permitíssemos essas atrocidades.

          “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons” – Martin Luther King.