2) Revista
faz ataque revisionista à Bíblia
Paulo
Ferreira
“Sócrates não gostava dos sofistas
porque para eles o que importava num embate retórico era somente vencer o
adversário, mesmo que para isso fosse preciso fazer uso de todo tipo de
artifício, inclusive a mais sórdida mentira” – Paulo Ferreira da Rocha Filho.
A
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revista Super Interessante do mês de janeiro
de 2015 ousou, mas errou na dose. Com farta reportagem com 12 páginas, tratou
de forma diferente até então, de um dos livros mais importantes da Bíblia –
Êxodo. Na capa, Moisés com seu cajado abrindo o Mar Vermelho, conduzindo o povo
hebreu. Abaixo, no rodapé: “Como um grupo
de escravos se aproveitou de um colapso no clima para fugir do Egito, dar
origem à maior de todas as histórias da Bíblia e mudar para sempre a civilização”. Essa mesma citação no interior da publicação
vem com um adendo: “Como um grupo pequeno
e irrelevante de escravos se aproveitou de um colapso de clima para fugir do
Egito, dar origem à maior de todas as histórias da Bíblia e mudar para sempre a
Civilização”.
Ao lermos à matéria, percebemos que o
texto fora escrito por alguém que deseja ser um grande
exegeta e que, finalmente, traz à luz a “verdade” para todos – Há uma certa intenção
de embotamento capcioso em seu entendimento. Faltou porém uma coesão textual e
contextualizada. Em alusão ao filme Interestelar que trata do delicado assunto,
o autor da reportagem, Alexandre Versignassi comenta: “uma civilização colapsada. E a única esperança de sobrevivência é encontrar
um outro planeta para substituir a Terra”. À guisa de reparar o equívoco na
revista, acrescentamos: não é preciso fazer nenhum exercício de elucubração
para ver que numa época em que a forma da Terra não era conhecida, pois o
telescópio somente seria inventado em
1608 pelo neerlandês Hans Lippershey. Pouco tempo depois, Galileu aperfeiçoou o
invento e, a partir desse fato, é que planetas e forma da Terra ficaram
conhecidos. É bastante improvável que um povo sem ter consciência de seu
endereço no universo pensasse em fugir para outros planetas, se nem sabia do
que se tratava. Isto somente seria possível se dentre os humanos existisse
alguém com dons proféticos. Mas sabemos que os profetas não se fizeram
sozinhos. Deus deu esse dom a uns poucos homens para que estes servissem de
interlocutor entre o Divino e o povo.
Na página 37 consta: “Na Bíblia a abertura do Mar Vermelho está presente, com toda a
pirotecnia a que se tem direito, já nos
trechos mais antigos do livro”. Pirotecnia é uso do fogo e este não foi
usado para tal fim. Aqui tratamos com água. Mesmo que queira se referir à coluna
de fogo que iluminava o caminho durante as noites, o fato é irrelevante. Os
ataques continuam quando se usa a palavra Mito para classificar três eventos:
a) Quando põe em dúvida a escravidão
dos hebreus durante longos 400 anos;
b) Quando afirma que “a teoria de mudança climática justificaria
o mito da abertura do Mar Vermelho”;
c) “Na realidade, o mito da travessia talvez reflita, com uma dose de
espetáculo, a memória de uma época de seca, em que o nível de alguns lagos
baixou drasticamente”.
Houve uma proposital desqualificação ao
longo do texto, inclusive de mar para lago, muito embora há casos que
geologicamente isso seja possível.
d) Na página duplamente ilustrada nº
37, o autor usa as palavras Córrego Vermelho substituindo Mar Vermelho.
A reportagem é sustentada
principalmente em hipóteses do especialista em paleoclima da Universidade do
Novo México, Brandon Lee Drake e do arqueólogo Israel Finkelsteis, da
Universidade de Tel Aviv. Mas o que é hipótese? Hipótese é uma proposição
especulativa e provisória. No campo científico tem valor relativizado - ela por
si só não se sustenta. Precisa ser demonstrada.
O assunto poderia ser notícia; reportagem, não.
Esta não é a primeira e provavelmente
não será a última vez que a Bíblia é atacada. Mas a Bíblia traz relatos
incontestes profetizados com pelo menos 150 anos de antecedência:
a) Um homem chamado Ciro conquistaria a Babilônia e
libertaria os hebreus – Isaías 44:28; 45:1;
b) O rio Eufrates secaria, abrindo caminho para o
exército de Ciro – Isaías 44:27;
c) Os portões da cidade seriam deixados abertos – Isaías
45:1;
d) O exército babilônico “deixaria de lutar” – Jeremias
51:30 e Isaías 13:1,7.
Para o filme Os Dez Mandamentos
(1956), o diretor Cecil B. DeMille convocou os intelectuais bíblicos Eusébio de
Cesaria e Flavio Josefo permitindo-lhes fazer algumas modificações e
adaptações, mas sem distorcer a realidade.
Para dirimir qualquer dúvida, a Bíblia é uma
obra escrita por homens inspirados em Deus. E como sempre ela permanecerá incólume ao
longo do tempo e este é o senhor da razão.