sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

2)    Revista faz ataque revisionista à Bíblia

Paulo Ferreira

“Sócrates não gostava dos sofistas porque para eles o que importava num embate retórico era somente vencer o adversário, mesmo que para isso fosse preciso fazer uso de todo tipo de artifício, inclusive a mais sórdida mentira” – Paulo Ferreira da Rocha Filho.

A
 revista Super Interessante do mês de janeiro de 2015 ousou, mas errou na dose. Com farta reportagem com 12 páginas, tratou de forma diferente até então, de um dos livros mais importantes da Bíblia – Êxodo. Na capa, Moisés com seu cajado abrindo o Mar Vermelho, conduzindo o povo hebreu. Abaixo, no rodapé: “Como um grupo de escravos se aproveitou de um colapso no clima para fugir do Egito, dar origem à maior de todas as histórias da Bíblia e mudar para sempre a civilização”.  Essa mesma citação no interior da publicação vem com um adendo: “Como um grupo pequeno e irrelevante de escravos se aproveitou de um colapso de clima para fugir do Egito, dar origem à maior de todas as histórias da Bíblia e mudar para sempre a Civilização”.
          Ao lermos à matéria, percebemos que o texto  fora  escrito por alguém que deseja ser um grande exegeta e que, finalmente, traz à luz a “verdade” para todos – Há uma certa intenção de embotamento capcioso em seu entendimento. Faltou porém uma coesão textual e contextualizada. Em alusão ao filme Interestelar que trata do delicado assunto, o autor da reportagem, Alexandre Versignassi comenta: “uma civilização colapsada. E a única esperança de sobrevivência é encontrar um outro planeta para substituir a Terra”. À guisa de reparar o equívoco na revista, acrescentamos: não é preciso fazer nenhum exercício de elucubração para ver que numa época em que a forma da Terra não era conhecida, pois o telescópio  somente seria inventado em 1608 pelo neerlandês Hans Lippershey. Pouco tempo depois, Galileu aperfeiçoou o invento e, a partir desse fato, é que planetas e forma da Terra ficaram conhecidos. É bastante improvável que um povo sem ter consciência de seu endereço no universo pensasse em fugir para outros planetas, se nem sabia do que se tratava. Isto somente seria possível se dentre os humanos existisse alguém com dons proféticos. Mas sabemos que os profetas não se fizeram sozinhos. Deus deu esse dom a uns poucos homens para que estes servissem de interlocutor entre o Divino e o povo.
          Na página 37 consta: “Na Bíblia a abertura  do Mar Vermelho está presente, com toda a pirotecnia a que se tem direito,  já nos trechos mais antigos do livro”. Pirotecnia é uso do fogo e este não foi usado para tal fim. Aqui tratamos com água. Mesmo que queira se referir à coluna de fogo que iluminava o caminho durante as noites, o fato é irrelevante. Os ataques continuam quando se usa a palavra Mito para classificar três eventos:
          a) Quando põe em dúvida a escravidão dos hebreus durante longos 400 anos;
          b) Quando afirma que “a teoria de mudança climática justificaria o mito da abertura do Mar Vermelho”;
          c) “Na realidade, o mito da travessia talvez reflita, com uma dose de espetáculo, a memória de uma época de seca, em que o nível de alguns lagos baixou drasticamente”.
          Houve uma proposital desqualificação ao longo do texto, inclusive de mar para lago, muito embora há casos que geologicamente isso seja possível.
          d) Na página duplamente ilustrada nº 37, o autor usa as palavras Córrego Vermelho substituindo Mar Vermelho.
         A reportagem é sustentada principalmente em hipóteses do especialista em paleoclima da Universidade do Novo México, Brandon Lee Drake e do arqueólogo Israel Finkelsteis, da Universidade de Tel Aviv. Mas o que é hipótese? Hipótese é uma proposição especulativa e provisória. No campo científico tem valor relativizado - ela por si só não se sustenta.  Precisa ser demonstrada. O assunto poderia ser notícia; reportagem, não.
          Esta não é a primeira e provavelmente não será a última vez que a Bíblia é atacada. Mas a Bíblia traz relatos incontestes profetizados com pelo menos 150 anos de antecedência:
a)   Um homem chamado Ciro conquistaria a Babilônia e libertaria os hebreus – Isaías 44:28; 45:1;
b)  O rio Eufrates secaria, abrindo caminho para o exército de Ciro – Isaías 44:27;
c)   Os portões da cidade seriam deixados abertos – Isaías 45:1;
d)  O exército babilônico “deixaria de lutar” – Jeremias 51:30 e Isaías 13:1,7.
          Para o filme Os Dez Mandamentos (1956), o diretor Cecil B. DeMille convocou os intelectuais bíblicos Eusébio de Cesaria e Flavio Josefo permitindo-lhes fazer algumas modificações e adaptações, mas sem distorcer a realidade.
           Para dirimir qualquer dúvida, a Bíblia é uma obra escrita por homens inspirados em Deus. E como sempre ela permanecerá incólume ao longo do tempo e este é o senhor da razão.