- 1° Lugar em Concurso Literário Amaletras.
Sou Mônica Costa, filha da Dadá do Cartório
O QUE FALAR DE BEBEDOURO???
Bairro histórico, um
dos mais antigos de Maceió, famoso por seus casarões, tradicionalmente
religioso e consagrado nos seus festejos como um dos mais animados da cidade.
Pode-se dizer que Bebedouro tinha de tudo um pouco: fábrica, cinema, estação
ferroviária, clinicas de repouso, clubes de futebol e de lazer, cartório, feira
livre, abrigo dos idosos, posto de saúde, parque municipal, Cavalaria da PM,
igrejas, escolas, cemitério, agência bancária e diversos pontos comerciais que
supriam as necessidades dos bebedourenses.
Parecia mais uma “cidade do Interior”. Banhado pela Lagoa Mundaú, tinha
o sururu como uma das fontes de subsistência. A programação obrigatória era o
passeio pela Praça Coronel Lucena Maranhão (famoso coreto), depois da missa
dominical na matriz de nosso querido padroeiro Santo Antônio, símbolo da fé
Católica... Ficam na memória os animados bailes no Clube 29 de Junho, as
saborosas frutas da Granja Conceição, os banhos de rio no Né Fragoso e o
Colégio Bom Conselho (Asilo das Órfãs), espelho de coisas boas na nossa
sociedade alagoana, entre tantas lembranças. Em Bebedouro, grandes
representatividades viveram e deixarem suas marcas. Sem citar nomes para não
cometer erros por esquecimento, até porque, CADA MORADOR tem sua história e
todos têm seu mérito e seu valor. Cresci ouvindo da minha família histórias
encantadoras e de grandes exemplos de um povo sofrido, mas honesto... E hoje,
lamentavelmente, temos nossas vidas destruídas, casas rachadas, chãos afundando
com a exploração da Braskem que ao logo de cerca de 40 anos veio se infiltrando
silenciosamente nos nossos solos com minas distribuídas de maneira irresponsável.
Nossos governantes e órgãos fiscalizadores fizeram vista grossa e a GANÂNCIA
falou mais alto. Somos mais um dos quatro bairros (Pinheiro, Bom Parto, Mutange
e Bebedouro) que estão aos poucos SUMINDO DO MAPA e, levando com eles nossas
histórias de vida. Cada tijolo derrubado passa um filme na minha vida, nas ruas
onde corri descalça, andei de bicicleta, carreguei balde d’água, brinquei
muito, estudei, participei de momentos religiosos, festejos. Fiz muitas
AMIZADES e fui FELIZ. “E AGORA JOSÉ??? Quem pode mensurar o valor de nossas
memórias??? Queremos nossas vidas, nossos empregos, nossa paz... mas isso não é
mais possível no lugar em que fomos plantados. Queremos o DIREITO DE RECOMEÇAR
a florir em outro lugar, com indenizações justas para vivermos com dignidade
com nossas famílias, carregando as recordações que irão nos nossos corações
para onde formos. Enquanto estamos perdendo parte de nossa história, VOCÊS
continuam enriquecendo. Tudo seria mais humano se cada um de VOCÊS tomassem
para si um pouco da dor do outro. Amo Bebedouro, meu lar, minha raiz. ESTOU DE
LUTO junto com todos os moradores!!!
Mônica Costa
Junho de 2020.
Um privilégio ter minha crônica no blog do meu conterrâneo (Bebedouro). Com certeza, nossas histórias se parecem, independente da época em que foram vividas. Obrigada querido poeta, pelo espaço e carinho.🌹
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